sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Motivos não faltam para nos orgulharmos da Petrobras!

Petrobras bateu recorde diário, mensal e anual de produção de petróleo e gás natural.
O anúncio foi divulgado em nota, no último dia 12, pela companhia. A produção total de petróleo e gás natural, em dezembro de 2014, no Brasil e no exterior, atingiu a média de 2,863 milhões de barris de óleo equivalente por dia (boed), melhor resultado já alcançado na história da empresa. O volume é 4,4% maior do que o registrado em novembro, que foi de 2,741 milhões de boed.

De acordo com a nota, a companhia bateu em dezembro seu recorde histórico de produção de petróleo e líquido de gás natural (LGN) no Brasil, ao alcançar média mensal de 2,212 milhões de barris de petróleo por dia (bpd). Este volume é 4,8% maior que o produzido em novembro, de 2,111 milhões de bpd.

Ao longo do ano, a produção da empresa no Brasil aumentou 15,4 %, passando da média mensal de 1,917 milhão de bpd, em janeiro, para 2,212 milhões de bpd em dezembro. A produção de óleo e LGN alcançada pela empresa no dia 22 de dezembro, que chegou a 2,3 milhões de barris de petróleo - maior volume em quatro anos - configurou novo recorde diário.

A produção total de óleo e gás natural no Brasil, em dezembro, também foi a maior da história da companhia. Chegou a 2,675 milhões de boed - 4,6% acima da produzida em novembro, que foi 2,556 milhões de boed. A produção total de óleo e gás operada pela empresa, que inclui a parcela de seus parceiros, alcançou 2,917 milhões de boed, em dezembro, configurando também nova marca histórica.

Na produção da camada pré-sal, em dezembro, a Petrobras atingiu média de 666 mil bpd, superando em 10% o recorde anterior, em outubro do mesmo ano, que foi 606 mil bpd. Informações mais detalhadas podem ser acessadas na página www.petrobras.com.br na internet.

Texto: Vladimir Platonow - Repórter da Agência Brasil


O ECONOMÊS E A LINGUAGEM DOS MORTAIS

O que dona Maria não sabe é que o tal pacote fiscal vai tornar mais difícil a compra da máquina de lavar que ela tanto sonhou, para se livrar do tanque.

"Estamos tomando uma sequência de ações para reequilibrar as contas públicas com o objetivo de aumentar a confiança, o entendimento dos agentes econômicos, de modo que possamos ver a retomada da economia em novas condições". Assim o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, explicou a necessidade do pacote fiscal anunciado na última segunda-feira.

Vamos tentar entender o economês naquilo que é fundamental para o ministro: "reequilibrar as contas públicas" significa, na língua real do bom e velho português brasileiro, ajustar despesas e receitas como em um banal orçamento doméstico da dona Maria, que precisa garantir a alimentação de sua prole e fazer a renda, formal ou não, render o suficiente para comprar os alimentos nos supermercados ou mercearias da vida cotidiana.

"O objetivo de aumentar a confiança, o entendimento dos agentes econômicos, de modo que possamos ver a retomada da economia em novas condições". Mas, se o salário é insuficiente, é preciso dar alguma demonstração ao seu José, dono da mercearia, que é possível pagar a conta acumulada e conseguir um crédito de confiança. Coisa que era feita, antigamente, no fio do bigode. Que não era da dona Maria, que nunca teve bigode, mas que o mundo dos homens criou a máxima. Embora dona Maria acabe sempre tendo que apertar o cinto que também não era dela, culturalmente.

O problema da dona Maria são as "novas condições", difíceis de entender. Palavras vagas para de quem não viu grandes mudanças no dia a dia, a não ser o aumento da conta de energia, do tomate que sobe e desce, do milho das galinhas que falta, mas vem, do feijão de cada dia que garante a "sustança" dos meninos.

Dona Maria não está preocupada com o aumento do IPI para produtos cosméticos, até porque, sobra pouco para isso.

O que dona Maria não sabe é que o tal pacote fiscal vai tornar mais difícil a compra da máquina de lavar que ela tanto sonhou, para se livrar do tanque. Vai tornar mais difícil juntar um dinheirinho pra dar entrada na casa própria, mesmo com o Minha Casa, Minha Vida. Até mesmo o aumento dos combustíveis que ela, que não possui carro ainda, não entendeu muito bem as reclamações. Dona Maria não sabe que a maior parte dos produtos, consumidos por ela, é transportada por via rodoviária, matriz do fluxo de mercadorias no Brasil.


São essas e outras coisas que as palavras do economês não explicam. E dona Maria segue na sua vidinha cotidiana, sofrendo com o economês que não domina, que está restrito aos iniciados, mas reflete na vida das muitas donas Marias que representam o Brasil real e que estão excluídas das explicações ministeriais.

Texto: Fátima Bandeira

Água cara veio para ficar

A falta de água em São Paulo é uma realidade há meses em diversos pontos do Estado. Na semana passada, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) admitiu que há sim racionamento (diante da repercussão, tentou voltar atrás), algo que a população – sobretudo a dos bairros mais carentes – já sabia. O que também já se sabe é que, sim, a água vai mesmo acabar. Se não chegar a zerar, terá níveis baixíssimos que afetarão a vida de todos, a partir de março.

Os especialistas ouvidos pelo Brasil Post viram com bons olhos o fato de que o governo paulista, com atraso, reconheceu o racionamento. Também aprovaram a aplicação de multa contra aqueles que consomem muita água – embora a medida, tardia, devesse ser uma política sempre presente, e não para ‘apagar incêndios’ como agora. Contudo, o cenário que se colocará com a chegada do período de estiagem, entre o fim de março e começo de abril, se estendendo até outubro, vai requerer novos hábitos, seja dos gestores ou da população.

“Quando acabar a água serão interrompidas atividades que não são consideradas essenciais, com cortes para o comércio, para a indústria e o fechamento de locais com muito uso de água, como shoppings, escolas e universidades”, analisou o professor Antonio Carlos Zuffo, especialista na área de recursos hídricos na Unicamp. Parece exagerado, mas não é. Segundo o jornal O Estado de São Paulo  desta quarta-feira (21), os seis mananciais que abastecem 20 milhões de pessoas na Grande São Paulo têm registrado déficit de 2,5 bilhões de litros por dia em pleno período no qual deveriam encher para suprir os meses de seca.

Já em 2002, a Saneas, revista da Associação dos Engenheiros da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (AESabesp), publicava um texto no qual apontava “uma inegável situação de estresse hídrico”, a qual podia “ter um final trágico, com previsões de escassez crônica em 15 anos”. A Agência Nacional de Águas (ANA) apontava, na outorga de uso do Sistema Cantareira de 2004, que era preciso diminuir a dependência desse sistema. Em plena crise, na tentativa de renovação em 2014, havia uma tentativa de aumentar, e não diminuir, o uso do Cantareira. Ou seja, algo impraticável e ignorando as previsões. Não, a culpa não é de São Pedro!

“Hoje a situação é muito pior que no ano passado. Em janeiro de 2014 tínhamos 27,2% positivos no Cantareira, hoje temos 23,5% negativos. Ou seja, consumimos 50% do volume nesse período. Mantida a média de consumo, a água acaba no fim de março. É preciso lembrar que janeiro é o mês com maior incidência de chuva em SP, seguido por dezembro. No mês passado, choveu 25% a menos do que a média. Esse mês só choveu 22%, 23% da média. A equação é simples: não vai ter água para todo mundo”, completou Zuffo.

Informação e transparência
Para a ambientalista Malu Ribeiro, da ONG SOS Mata Atlântica, a demora em admitir o óbvio por parte das autoridades trouxe mais prejuízos do que benefícios ao longo dos últimos 13 meses. “A sociedade precisa ter a noção clara da gravidade dessa crise. Quando as autoridades passam certa confiança, como era o caso do governo Alckmin, a tendência é que não se alerte da forma necessária e as pessoas se mantenham em uma situação confortável. Muita gente não acredita na proporção dessa crise, muito se agravou e agora é preciso cautela”, avaliou.

As mudanças na Secretaria de Recursos Hídricos e na presidência da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), com as entradas de Benedito Braga e Jerson Kelman, respectivamente, também foram benéficas, já que colocam em posições estratégicas dois especialistas no tema. Entretanto, isso não basta. A necessidade de discutir a gestão da água sob o âmbito estratégico, algo muito teórico e pouco prático no Brasil, é vista como fundamental em tempos de crise.

“Há ainda muita ocupação em áreas de mananciais, por exemplo. Então vemos que o comportamento, apesar da crise não ser nova, não mudou. Veja em Itu, onde eu moro, onde a crise foi muito pior e, agora que choveu um pouco, as pessoas acham que não precisam mais poupar, que tudo voltou ao normal. O combate ao desperdício deve ser permanente e temos de ter prevenção. É preciso doer no bolso, por isso a multa deve ser permanente”, disse Malu.

“A falta de informação resultou em uma insegurança, sem informar à população sobre o seu papel na crise. A ONU já apontava que a década entre 2010 e 2020 seria da água, e não por acaso, mas no Brasil há uma timidez nesse sentido. É preciso mudar essa cultura de abundância que se tem no Sudeste e desenvolver um plano estratégico, com mais poder aos comitês de bacia. É absurdo o desperdício de água na agricultura, e isso não é discutido. É hora de acordar”, completou a ambientalista.

“Água cara” veio para ficar
De acordo com os especialistas, a crise da água expõe também um cenário já esperado, já que a Terra passa por ciclos alternados entre seca e chuvas a cada 30 anos. O atual, iniciado em 2010 e que segue até 2040, será recheado de períodos de seca em regiões populosas, quadro a se inverter apenas daqui a 25 anos. Assim, é preciso mudar hábitos, antes de mais nada. Mesmo em tempos de calor excessivo, há quem ainda não tenha se dado conta disso.

“Muita gente se vê alheia ao problema e, com o calor, acaba correndo para comprar piscininhas e usa a água para o lazer. O Carnaval que está chegando também ajuda a tirar o cidadão comum do foco, como ocorreu durante as eleições. Isso não é mais possível. Há a responsabilidade dos gestores, mas também é preciso que o cidadão se atente ao seu papel, sob pena de termos novas ‘cidades mortas’, como no Vale do Paraíba ou no Vale do Jequitinhonha, onde os recursos naturais foram exauridos”, afirmou Malu.

E que ninguém se anime com a promessa da Sabesp de que ainda há uma terceira cota de 41 bilhões de litros do volume morto do Cantareira, cujo uso deve ser solicitado pelo governo paulista junto à ANA nos próximos dias. “Sabemos que 45% do Cantareira que não é captado é volume morto. A terceira cota restante não é toda ela captável. Teríamos com ela mais uns 10%, suficiente só para mais algumas semanas”, comentou Zuffo.

Medidas sugeridas ao longo da crise, o reuso da água e a dessalinização são medidas caras e que dependem de outros aspectos para serem implementadas – e, com o possível racionamento de energia elétrica, podem não sair do papel. Ou seja, não são a solução a curto prazo. O uso de mais água de represas como a Billings (com sua notória poluição) também dependem de obras – outro entrave para quem gostaria de não ver a falta de água por dias seguidos se tornar uma realidade por meses a fio. Sem chuva, só há um caminho a seguir.

“Há uma variabilidade cíclica natural, que nada tem a ver com o aquecimento global, mas não temos engenharia para resolver a questão no curto prazo. Temos é que ter inteligência para nos adaptar e reduzir de 250 litros para 150 litros, ou ainda menos, o consumo de água por cada pessoa. Há países europeus em que o uso não passa de 60 litros/pessoa. É preciso usar menos e tratar a água de maneira que ela possa ser reutilizada. Tudo depende de tecnologia e novos hábitos”, concluiu Zuffo.


Texto: Thiago de Araujo, via Brasil Post

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Haddad (PT) e o Passe Livre para estudantes

Prefeitura de São Paulo detalha regras do passe livre para estudantes.

Gratuidade é válida para alunos do ensino fundamental e médio da rede pública, de universidade pública com renda familiar per capita de até R$ 1.182 e de universidade privada beneficiários do Prouni, Fies, Bolsa Universidade ou Cotas Sociais

A Secretaria Municipal de Transportes publicou no último dia 09/01, no Diário Oficial da Cidade, a portaria de regulamentação das regras para concessão do passe livre a estudantes no transporte público. As regras foram estabelecidas em conjunto com o governo do Estado e confirmam os critérios para obtenção da gratuidade anunciados anteriormente. A regulamentação detalha que, nos casos onde haverá limitação por renda familiar per capita, valerá a auto declaração do estudante, que será feita no portal da SPTrans.

Para uso no ônibus, os alunos que estudam cinco dias por semana receberão 24 “cotas diárias” por mês. Cada “cota diária” permite até oito embarques de ônibus em um período de 24 horas. Dessa forma, o estudante tem mais liberdade para completar seu trajeto, em um ou mais ônibus, no limite máximo de até 192 embarques por mês*. A concessão das cotas é proporcional aos dias de aula. Portanto, se o aluno estuda uma vez por semana, receberá cinco cotas. As cotas não são cumulativas. Se não forem utilizadas, não ficarão acumuladas no cartão para o mês seguinte.

Terão direito às cotas gratuitas os estudantes que:
- cursem o ensino fundamental e médio nas redes públicas de ensino municipal, estadual ou federal;
- cursem o ensino superior das redes públicas estadual ou federal, que possuam renda familiar per capita inferior a 1,5 salário mínimo nacional.
- cursem o ensino superior em estabelecimentos privados desde que sejam:
  • ·   Bolsistas do programa Prouni – Programa Universidade para Todos
  • ·      Financiados pelo Fies - Programa de Financiamento Estudantil
  • ·     Integrantes do Programa Bolsa Universidade (Programa Escola da Família), que possuam renda familiar per capita inferior a 1,5 salário mínimo nacional.

- Abrangidos por programas governamentais de cotas sociais, que possuam renda familiar per capita inferior a 1,5 salário mínimo nacional.

O cartão do Bilhete Único com a gratuidade para os estudantes só pode ser usado por seu titular, que é responsável pela recarga. Quando as cotas e viagens se esgotarem, será cobrado o valor padrão da tarifa para novas viagens no transporte coletivo.


*Esse limite é o equivalente às 48 viagens por mês anunciadas anteriormente, considerando que cada “viagem” de ônibus pode ter até 4 embarques.

Ensaio sobre a cegueira paulista

E, de repente, um surto de cegueira acometeu São Paulo. Não se sabe se começou na avenida Higienópolis, na capital, ou se veio do interior. Há quem diga que o primeiro cego perdeu o senso de realidade em Ribeirão Preto. De repente deu de achar que estava na Califórnia. E a epidemia se espalhou silenciosamente pelo Estado, por todas as cidades e vilarejos.

Em 2014, nas eleições para o governo do Estado, a cegueira estava disseminada. Diferentemente do livro de José Saramago, onde uma mancha branca, um “mar de leite”, cegava um a um os habitantes de uma cidade fictícia, em São Paulo os cegos continuavam enxergando. Mas há tempos já se diz que o pior cego é aquele que não quer ver.

E eles não viram, ou apenas fizeram cara de paisagem, junto com editores cegos de jornais e revistas, do rádio e da TV. Tudo parecia normal durante a reeleição do “Geraldo”, alcunha de Geraldus Alckminus, da longeva dinastia tucana. “Não vai faltar água”, disse o governador pausadamente naquela campanha, ressaltando cada sílaba, na maior mentira deslavada da história recente do país.

E assim a maioria dos paulistas “acreditou” no que ele disse. Culparam São Pedro, o PT, e ignoraram solenemente os milhões que escorreram nos túneis do metrô e a violência que voltou a crescer. Se fizeram de Maria Antonieta no desmonte da educação e das universidades do Estado. Aplaudiram a PM esfolando manifestantes e matando jovens negros e pobres nas periferias. E sobretudo se fizeram de surdos quando alertados que a Cantareira estava baixando e que a água, logo logo, iria acabar.

No quarto mês de 2015, no início do quarto reinado alckmino, ano 20 da era tucana, muitos paulistas começaram a se dar conta da realidade. Talvez tenha sido o odor inebriante do CC no busão ou as louças amontoadas na pia. O cabelo ensebado por falta de banho pode ter ajudado. Cientistas suspeitam dos efeitos colaterais da água do volume morto.

Dizem que uma moradora dos Jardins acordou num surto psicótico depois que uma crosta de poeira havia se impregnado em seu carro de luxo. Nem decuplicar a oferta ao lava jato conseguiu driblar a realidade. “Esse atendimento não era gourmet?”, gritava, insana. Mas naquele dia já não havia mais água.

Não demorou a que o caos se instalasse. Todos correram aos supermercados para estocar o líquido precioso. As gôndolas ficaram rapidamente vazias. Em Itu, um caminhão de água foi sequestrado. Por toda a parte, havia registros de brigas, até por garrafinhas de 500 ml de água. E o preço foi às alturas. Em Pinheiros, uma rua cedeu depois que vários moradores cavaram poços clandestinos. A desordem se instalou. No Palácio dos Bandeirantes, longe de tudo e de todos, Alckminus tentava contornar a crise.

Desta vez, estava preocupado. O Maquiavel de Pindamonhangaba enxergava tudo muito bem e, com jeito de bom moço, já havia se tornado mestre em abafar CPIs na Assembleia Legislativa ou em mentir que a Corregedoria da PM funciona. Agora, estava sob grande pressão.

Ainda não havia sinal de nenhuma turba chegando ao longínquo Palácio dos Bandeirantes. O Choque da PM bloqueou o acesso ao Morumbi (com garantia de água à vontade, a fim de evitar um motim policial). O estoque de balas de borracha foi reforçado e um novo lote de gás lacrimogêneo fora usado contra manifestantes do Movimento Água Livre.

Contra o povo, Alckminus tinha a polícia. O que realmente o preocupava eram os 30 PIBs de São Paulo reunidos no Palácio (a quem foi oferecido champagne por razões de “restrição hídrica”, como explicou o cerimonial). Também apavoravam o governador as chantagens dos acionistas da Sabesp. Apesar do preço exorbitante, a falta d’água deixou a companhia deficitária, com as ações a preço de banana na Bolsa de Nova York, onde eram comercializadas desde a privatização parcial da empresa.

E assim os paulistas tentavam deixar a cidade, o Estado. Um grande congestionamento, que já durava uma semana, travou as rodovias. Na capital, moradores fugiam pelas ruas, carregando o que podiam, em uma cena dantesca. Uns deliravam e arrancavam as roupas, andando desorientados. A Força Nacional foi acionada. Já havia gente se jogando no Tietê.

Em meio à tragédia, os jornais traziam notícias otimistas. “Cacique Cobra Coral assegura que vai chover”, dizia a manchete de um deles, com declarações de Alckminus justificando a contração da “consultoria para deficiência hídrica”.

Analistas chegaram a prever um ataque da população ao Bandeirantes, mas pesquisas mostravam que grande parte dos paulistas ainda não tinha certeza sobre quem era o responsável pela crise da água, se Dilma ou Haddad.

Na dúvida, resolveram ir embora o mais rápido possível, com a fé abalada em São Pedro. Ainda mantinham a esperança de que, um dia, a cidade fosse inundar mais uma vez durante as chuvas de verão e que haveria água para todos (ou ao menos nos camarotes). Para muitos, a cegueira era irreversível.

Texto: Mauricio Moraes



quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

PIMENTA NOS OLHOS DOS OUTROS, É REFRESCO!

Habituados a apontar o dedo acusatório a petistas, pelos mesmos motivos, os tucanos se veem agora em dificuldades para explicar a acusação, que partiu de um policial federal e foi noticiada pelos jornalões.

Os tucanos, que estão envolvidos até o pescoço no escândalo do cartel de trens do metrô paulista, começam a entrar em pânico diante dos novos depoimentos na Operação Lava-Jato, onde nomes de peso do PSDB, como o do ex-governador mineiro e atual senador Antonio Anastasia, já surgem entre os beneficiários do esquema de propinas na Petrobrás. Ele foi acusado pelo policial federal Jayme Oliveira Filho de ter recebido R$ 1 milhão, a mando do doleiro Alberto Youssef. Habituados a apontar o dedo acusatório a petistas, pelos mesmos motivos, os tucanos se veem agora em dificuldades para explicar a acusação, que partiu de um policial federal e foi noticiada pelos jornalões.

O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, que costuma classificar de "extremamente grave" a mesma acusação a políticos petistas e de partidos aliados do governo, condenando-os por antecipação, apressou-se em distribuir nota afirmando que "não permitiremos que biografias honradas, como a do senador eleito por Minas Gerais, se confundam com a daqueles que vêm assaltando os cofres públicos no país". Não permitiremos?? E acrescenta que a "falsa e covarde acusação não se sustenta em pé". Ou seja, só é falsa e covarde a acusação contra tucanos, como se a filiação ao PSDB representasse um atestado de honestidade. Quanta hipocrisia!!

O fato lembra o episódio vivido pelo então senador Demóstenes Torres, que conquistou notoriedade por viver apontando o dedo para os outros e pedindo a cabeça deles diante de uma simples citação dos seus nomes em qualquer escândalo de corrupção. E ele passou a ser visto como modelo de honestidade, até o dia em que foram descobertas as suas estreitas ligações com o bicheiro Carlinhos Cachoeira. O senador goiano provou, então, do próprio remédio, perdendo o mandato e a aura de paradigma da honestidade. O episódio lembra uma famosa frase atribuída ao grande filósofo grego Sócrates: "Não basta parecer honesto. É preciso ser honesto".

Não se deve, obviamente, condenar ninguém a priori com base numa citação em qualquer investigação – afinal, todos são inocentes até prova em contrário – mas os tucanos, em especial o senador Aécio Neves, seu colega Álvaro Dias, o deputado Carlos Sampaio e o líder do PSDB na Câmara Federal, Antonio Imbassahy, são useiros e vezeiros em condenar petistas e aliados citados nos vazamentos seletivos da Operação Lava-Jato, antes mesmo de qualquer acusação formal. Agora estão sentindo na pele os danos causados aos outros. E isso, ao que parece, é apenas o começo de uma avalanche de acusações que desabará quando for revelada a lista de políticos beneficiados pelo esquema da Petrobrás. Há um velho dito popular que sentencia: "Quem tem telhado de vidro não atira pedras no telhado alheio".

Ninguém consegue prever ainda a extensão da lista de beneficiários do apelidado "Petrolão", mas de uma coisa poucos têm dúvidas: muita gente vai se surpreender com o aparecimento de nomes de destaque no cenário político que, até a acusação do policial Jayme Filho, manifestavam uma falsa indignação com o que eles mesmos classificaram como "o maior escândalo de corrupção da história" do Brasil. Imaginavam, certamente, que estariam a salvo da Operação Lava-Jato e agora, diante da citação do nome do senador Antonio Anastasia, provavelmente serão mais cautelosos em seus pronunciamentos acusatórios, pois "quem vê a barba do vizinho arder coloca as suas de molho". E apesar das simpatias políticas de membros da equipe de investigação, vai ser muito difícil evitar que alguns nomes venham à tona.

O que impressiona nisso tudo é o tamanho dos tentáculos do doleiro Alberto Youssef, que, aparentemente, não tinha nenhuma simpatia por partidos, envolvendo todos os que, de alguma forma, pudessem contribuir para aumentar o seu poder de influência e a sua conta bancária. O que ele e os beneficiários não pensaram é que um dia o esquema fatalmente seria descoberto. E muitos dos que posam hoje de paradigmas da honestidade, fazendo questão de apontar o dedo sujo para os outros, acabam desabando do pedestal, revelando a sua verdadeira face. Não custa lembrar o que disse Jesus: "Não julgueis os outros para não serdes julgados com a mesma medida com que julgou".

Já circulam informações na Internet, com base no site do Tribunal Superior Eleitoral com os números da prestação de contas dos partidos sobre a última campanha eleitoral, dando conta de que diversos tucanos de alta plumagem, entre eles o próprio Aécio Neves, receberam doações milionárias de empreiteiras envolvidas no escândalo da empresa estatal. Isso não significa nenhum ato de desonestidade, mas diante dessas informações os beneficiários dessas doações já passam a ser vistos com certa desconfiança pela opinião pública. É o preço que muitos terão de pagar por seu comportamento hipócrita.


Texto: Ribamar Fonseca 

PSDB e a seca em SP

Crise da água em SP, causada pelo PSDB, viola os direitos humanos e aumenta desemprego. O Estado de São Paulo vive há meses uma crise de água sem precedentes causada pelos capitalistas com um grande apoio do Governo do PSDB.
O "volume morto" (reserva subterrânea da represa, cuja qualidade aparentemente não é muito boa) do Sistema Cantareira, que abastece boa parte da região – como a própria capital –, está na casa dos 10% de sua capacidade.
A falta de chuva não é desculpa para a crise. Há 30 anos o volume do Sistema Cantareira não é ampliado. A Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) tinha a obrigação de aproveitar o excesso de água das fortes chuvas que caíram nos últimos anos, principalmente em 2011.

Racionamento às escondidas
O governador Geraldo Alckmin insiste que não há e nem haverá racionamento, e a grande mídia compra essa mentira. Apesar disso, parece que o povo está acordando em relação a esse tema. De acordo com uma pesquisa do DataFolha de agosto, a maioria da população acredita que Alckmin fornece somente os dados que interessam à sua gestão.
Segundo outro estudo do mesmo órgão, até metade de agosto 46% dos cidadãos da cidade de São Paulo relatou falta de água. O Ibope também divulgou uma pesquisa recente que mostra que 38% dos eleitores sofreram interrupção no abastecimento de água em suas casas nos últimos três meses, sendo 50% na capital e 55% na sua região metropolitana.
O governo do PSDB diz que não há racionamento – uma verdadeira mentira, há anos o povo do subúrbio sofre com falta de água, principalmente os pobres das comunidades que vivem em habitações precárias – e mesmo assim já gastou mais do que se tivesse feito um racionamento transparente.
Um mês atrás, a Folha publicou reportagem mostrando que a queda na produção de água do Sistema Cantareira nos cinco meses anteriores já era equivalente a uma situação de racionamento, com um rodízio de três dias sem água para cada 1,5 dia com abastecimento.
Lucros exorbitantes para os empresários e sucateamento da infraestrutura
Toda esta crise é o resultado dos acordos do governo do PSDB (que emprega há 20 anos uma política neoliberal no Estado) com os grandes capitalistas. A Sabesp está à poucos passos de sua completa privatização.
"A Sabesp orgulha-se de afirmar que tem ações no mercado de capitais e figura na lista de empresas na Bolsa de Nova Iorque há mais de dez anos, além de distribuir importantes dividendos a acionistas da empresa. Esse tipo de gestão para um serviço público essencial, como é o caso da água e esgoto, está longe do ideal, isso fica claro. (...) E a tendência de privatizar serviços públicos, uma política comum nas ações do Governo de SP, não tem bons resultados quando se observa a Sabesp", analisa Paulo Fiorilo em um artigo no site Brasil 247.
Realmente, a empresa controlada pelos direitistas tucanos e seus amigos empresários não tem a menor intenção de servir ao povo paulista, apenas aos interesses privados. São incontáveis somas de dinheiro público que vão para seus bolsos. Por ano, a Sabesp fatura R$ 11 bilhões em tarifas cobradas dos consumidores.
Pouco mais de um mês atrás, o jornalista Altamiro Borges escreveu na Carta Maior: "De 2004 a 2013, a Sabesp distribuiu R$ 4,8 bilhões de lucros aos seus acionistas no Brasil e no exterior. Neste mesmo período, porém, ela não cumpriu as diretrizes fixadas pela outorga do Sistema Cantareira de 2004, quando houve outra crise de abastecimento em São Paulo e já eram estabelecidas ações e investimentos para atender às demandas da população. À época, Geraldo Alckmin já ocupava o Palácio dos Bandeirantes, em seu primeiro mandato, e também pediu para a população economizar água, enquanto apontava a falta de chuva como razão para o desabastecimento". Nenhuma das medidas foi executada plenamente. "Além disso, para saciar o apetite dos acionistas por lucros, houve redução dos investimentos no setor e a Sabesp ainda demitiu trabalhadores e reduziu a manutenção do sistema."
Como o Governo do Estado se recusou a melhorar a infraestrutura, o sistema de fornecimento de água foi sucateado. Em programa da Globo News, Marilene Ramos, do Centro de Regulação da Fundação Getúlio Vargas, apontou que "entre 30% e 40% da água fornecida para a população se perde no próprio processo de abastecimento".
Alckmin e o PSDB adoram dar o dinheiro do povo para as empresas privadas. A empresa ModClima foi contratada, no começo do ano, por R$ 4,5 milhões para produzir chuva artificial sobre os reservatórios, o que não surtiu nenhum efeito, a não ser a transferência de dinheiro dos cofres públicos para os empresários – e, possivelmente, para o bolso do governador.
No final de agosto, a Sabesp proporcionou R$ 11 milhões a mais para as empresas que lhe prestam serviço de publicidade (Lew Lara, Fisher América e White), elevando para quase R$ 45 milhões seus gastos com essas empresas desde março.
As obras do bombeamento do "volume morto" tiveram um custo de R$ 80 milhões. O equipamento para bombear a água funciona à base de diesel porque ainda não foi conectado à rede elétrica e os gastos já chegam a mais de R$ 3 milhões em quatro meses.

Violação dos direitos humanos
O fornecimento de água deveria ser completamente estatizado, para proporcionar o elemento mais básico e essencial à vida para toda a população, porém é mais interessante para os poderosos que isso seja privatizado e eles lucrem com isso.
Também porque os ricos dificilmente sofrerão racionamento como ocorre há muito tempo com os trabalhadores da periferia. Um levantamento da Sabesp mostrou que os bairros nobres da cidade de São Paulo são os que menos economizam água.
"Quando os únicos que sofrem com a falta de água são os pobres, pessoas que não têm voz na sociedade, as coisas não mudam", diz em entrevista à Folha a portuguesa Catarina de Albuquerque, relatora das Nações Unidas para a questão da água. Mas adverte: "Quando as pessoas que são ameaçadas com a falta de água são as com poder, com dinheiro, com influência, aí as coisas podem mudar, porque eles começam a sentir na pele".
Ela fala sobre os desmandos na privatização da água, o que afeta a maior parte da população. "No caso de uma empresa pública prestar um serviço que equivale a um direito humano, deveria haver maior limitação na distribuição dos lucros aos acionistas."
Para a própria relatora, o desabastecimento, especialmente para o povo mais desfavorecido, é uma violação dos direitos humanos. "A partir do momento em que parte dos recursos é enviada a acionistas, não estamos cumprindo as normas dos direitos humanos e, potencialmente, estamos face a uma violação desse direito."

Efeitos da falta de água para os trabalhadores
Os trabalhadores pobres da periferia são os que mais sofrem, pois são as regiões mais afastadas do centro que a Sabesp elege de bode expiatório. Algumas cidades do interior do Estado já declararam estado de calamidade. Na região metropolitana há racionamento, embora a empresa às vezes diga que está fazendo "serviços de manutenção".
A falta de água também afeta a saúde e os serviços, além de gerar desabastecimento elétrico. A própria produção sofre os efeitos da crise, e os trabalhadores, como sempre, são os primeiros a sentirem as consequências.
Uma pesquisa feita em maio pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) revelou que até então mais de 3 mil trabalhadores haviam sido demitidos devido à falta de água, que reduziu o ritmo da produção e fez cair a produtividade das indústrias. Segundo a Fiesp, a tendência é que a situação se agrave ainda mais nos próximos meses.