Números
do TSE esvaziam discurso sobre divisão geopolítica do Brasil. Sudeste e
Nordeste tiveram peso muito semelhante na reeleição de Dilma, contrariando
ideia que atribui vitória petista apenas aos nordestinos. Radicais pedem que
São Paulo se separe do país.
As
redes sociais amanheceram no dia 27/10 com novas demonstrações racistas de
ressaca eleitoral entre correligionários do candidato do PSDB à Presidência da
República, Aécio Neves, derrotado no pleito de 26 /10 por uma diferença de 3,45
milhões de votos. A intolerância contra nordestinos – já criticados por
preferirem Dilma Rousseff no primeiro turno – foi além do discurso sobre a
“divisão geopolítica” do Brasil e chegou ao separatismo. Uma ira, porém, que
não resiste aos números.
Um
dos principais porta-vozes da recente onda secessionista é o vereador da cidade
de São Paulo, Coronel Telhada (PSDB), ex-comandante da tropa de elite da
Polícia Militar, entusiasta da ditadura e recém-eleito deputado estadual com
254 mil votos. “Que o Brasil engula esse
sapo atravessado. Acho que chegou a hora de São Paulo se separar do resto desse
país”, lamentou, em sua página no Facebook,
reproduzindo um cartaz que convocava paulistas a lutarem durante a Revolução
Constitucionalista de 1932, contra o então presidente Getúlio Vargas.
“Já que o Brasil fez sua escolha pelo PT,
entendo que Sul e Sudeste (exceto Minas Gerais e Rio de Janeiro, que optaram
pelo PT) iniciem o processo de independência de um país que prefere esmola do
que o trabalho, preferem a desordem ao invés da ordem, preferem o voto de
cabresto do que a liberdade”, queixou-se, antes de questionar: “Por que devemos nos submeter a esse governo
escolhido pelo Norte e Nordeste? Eles que paguem o preço sozinhos.”
A simples conferência das
urnas, porém, desmonta o discurso do coronel tucano. De acordo com números do
Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Nordeste e Sudeste tiveram participação
muito semelhante na vitória da candidata petista. A presidenta Dilma Rousseff
obteve um total de 54,5 milhões de votos no segundo turno. A região tão atacada
por setores da elite paulista contribuiu com 20,2 milhões de votos – 37% dos
sufrágios ao PT. No Sudeste, 19,9 milhões de pessoas escolheram a presidenta –
o que representa 36,5% dos votos em Dilma.
Por sua vez, Aécio Neves teve 25,4 milhões de
votos no Sudeste, quase 6 milhões de vantagem sobre Dilma Rousseff, mostrando
que a região claramente prefere o tucano. O representante do PSDB, porém,
conseguiu apenas 7,9 milhões de votos entre os nordestinos – pouco mais de um
terço da votação obtida pela presidenta na região. Fica claro, portanto, que o
Nordeste nutre ampla predileção por Dilma Rousseff. Mas não é verdade que essa
preferência se reflete com tanta ênfase para Aécio Neves no Sudeste.
Há certo equilíbrio entre a votação recebida por Dilma e Aécio no Norte
do país. Os estados amazônicos concederam 4,4 milhões de votos à petista e 3,3
milhões ao tucano. A balança tampouco pende muito para Aécio no Centro-Oeste,
onde obteve 4,3 milhões de votos contra 3,2 milhões de Dilma. No Sul, a
vantagem do tucano é um pouco maior: 9,6 milhões contra 6,8 milhões.
Os números
do TSE, portanto, permitem dizer que, se há divisão política, ela abrange todo
o país: pende significativamente para o PSDB, no Sudeste, e muito
favoravelmente para o PT, no Nordeste.
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