"Este texto pode parecer longo, mas ao lê-lo, entendemos muita coisa que está acontecendo, colocamos pingos nos 'is', recebemos outras informações...
Aproveite a leitura. Alguns minutos renderão bom debates posteriormente!"
Daniela Pellizzari - Presidente PT de Indaiatuba
O PT nasceu para ser diferente. E foi. O PT nasceu para mudar o Brasil.
E mudou. Desde o início de nossa trajetória, em 1980, adotamos um novo modo de
fazer política que contribuiu de maneira decisiva para ampliar e aprofundar a
democracia no país.
Crescemos lutando para que os excluídos tivessem voz e vez. Junto com os
movimentos mais representativos da sociedade, resistimos ao injusto modelo
neoliberal e conseguimos impedir que privatizassem completamente o patrimônio
público brasileiro, construído com o sacrifício de gerações. E, a partir de
2003, chegando pelo voto popular ao governo federal, promovemos uma
verdadeira — e pacífica — revolução social, que, pela primeira vez, colocou a inclusão
dos mais pobres e o combate à desigualdade no centro da agenda nacional,
libertando da fome e da miséria 36 milhões de pessoas, e provando que o país
podia crescer em benefício de todos.
A contribuição do PT ao país é, pois, concreta, evidente, inegável.
Ninguém de boa fé pode deixar de reconhecê-la. Pesquisadores e estudiosos de
todo o mundo afirmam que, sem o PT, a história do Brasil pós- ditadura seria
incomparavelmente menos democrática e justa.
Ao implantar um novo modelo de desenvolvimento, baseado na solidariedade
social, e combater com tanto sucesso a pobreza e a exclusão, o PT cumpriu uma
notável missão ética e civilizatória, levando a população brasileira a atingir
um patamar inédito de dignidade e cidadania.
Por
que, então, somos hoje alvo da mais feroz campanha de desmoralização já lançada
contra um partido político no Brasil? A quem
serve esse verdadeiro massacre político e midiático? Quais
são os seus reais objetivos?
É preciso dizer com toda a clareza: o ódio dos conservadores ao PT não é
causado por nossos erros políticos, mas por causa dos nossos extraordinários
acertos sociais, que contrariaram interesses poderosos e desafiaram
preconceitos seculares.
Mas não podemos ignorar que nossas falhas e insuficiências políticas
também contribuíram para desgastar a imagem do Partido, que passou a ser visto
por muitos como uma legenda igual às outras, em descompasso com a sua história
profundamente inovadora e com as expectativas que sempre despertamos na
sociedade.
Para corrigir tais falhas, sem abrir mão das enormes conquistas sociais
que obtivemos, e continuar impulsionando o país no rumo da prosperidade e da
justiça, é preciso fazer uma reflexão autocrítica e enfrentar com humildade e
coragem os desafios atuais — como o PT sempre foi capaz de fazer ao longo de
sua caminhada.
Essa reflexão deve ser compartilhada não só com a militância petista,
mas com os milhões de brasileiros e brasileiras que acreditam na luta por uma
sociedade cada vez mais livre, justa e igualitária. Pois, o que está em jogo
não é apenas a imagem de um partido, por mais importante que ele seja, mas o
direito inalienável que tem o nosso país de continuar avançando no seu projeto
de desenvolvimento soberano e sustentável.
A GRANDE TRANSFORMAÇÃO!
Nestes primeiros anos do século XXI, o Brasil despertou a atenção do
mundo pela combinação virtuosa de um projeto sustentável de desenvolvimento
nacional com um movimento de inclusão social sem precedentes, na vigência da
democracia e das liberdades fundamentais. Só muito raramente se consegue que
esses três fatores — econômico, social e político — coincidam no tempo das
nações, criando oportunidades de progresso material e humano para o conjunto do
País, tornando possível realizar sonhos coletivos longamente acalentados.
É,
de fato, extraordinário que uma nação marcada secularmente pela desigualdade e
concentração de renda, pela dependência econômica e por sistemas políticos
autoritários e excludentes, tenha conseguido realizar tudo o que realizamos nos
últimos 12 anos. A começar pela mais ética e simbólica de todas as
transformações, que foi acabar com a fome em nosso país.
Esse novo Brasil, mais justo e mais democrático, é o resultado de uma
grande aliança, liderada pelo PT, que envolveu partidos, movimentos sociais e amplos
setores da sociedade num diálogo intenso e permanente.
Pela
primeira vez as grandes políticas públicas passaram a ser elaboradas com forte
participação cidadã. Os trabalhadores da cidade e do campo, as mulheres, os
negros, os indígenas, a intelectualidade, a juventude, os defensores dos
direitos humanos e da diversidade sexual e os ambientalistas assumiram um
protagonismo efetivo nas definições de governo, por meio de conferências,
conselhos e mesas permanentes de negociação. A sociedade civil deixou de ser
mero objeto para tornar-se autêntico sujeito das escolhas do país, trazendo um
sopro renovador e criativo para a vida pública.
E, sobretudo, os pobres e os assalariados foram instalados no coração de
todas as políticas e ações do governo.
O
Brasil que saiu do Mapa da Fome das Nações Unidas é o mesmo Brasil que se
tornou uma das maiores economias globais; que dobrou a produção agrícola e se
tornou um dos maiores exportadores mundiais de alimentos; que está entre os
primeiros na indústria aeronáutica, de automóveis, de petróleo, na indústria
química, de cimento, celulose, de vestuário, calçados, bebidas, na siderurgia,
entre outros setores; que tem uma das mais sólidas posições em termos de
reservas internacionais e se tornou um dos cinco maiores destinos de
investimento externo direto no mundo.
É o mesmo Brasil que dobrou para 7 milhões as matrículas nas
universidades, adotando as cotas para negros, indígenas e alunos de escolas
públicas; que democratizou o acesso ao crédito e garantiu aumento real e
constante dos salários; que criou 21 milhões de empregos formais, que assentou
e criou condições para milhões de famílias produzirem no campo. Que começou a
corrigir o injustificável desequilíbrio entre as regiões, levando obras de
infraestrutura e grandes investimentos produtivos ao Nordeste e ao Norte do
país. E que foi capaz de fazer tudo isso recuperando e garantindo a
estabilidade econômica.
É um país que despertou a confiança de seu povo e conquistou o respeito
internacional. Que passou a praticar, sem arrogância nem subserviência, uma
política externa soberana, voltada para a integração latino- americana e
caribenha, a cooperação com os povos da África e a parceria com os BRICS, sem
prejuízo das suas tradicionais relações com a Europa e a América do Norte.
O PT CONTRA A CORRUPÇÃO!
A corrupção, tanto privada como pública, é um problema grave para
qualquer país e, por isso, deve ser combatida com o máximo rigor, em caráter
permanente. Seja no âmbito municipal, estadual ou federal, ela fere um dos princípios
básicos da democracia, que é a igualdade de direitos — a isonomia — entre as
empresas, as entidades, os indivíduos. Deturpa a vida econômica e civil,
premiando indevidamente a concorrência desleal, os cartéis e monopólios, em
prejuízo do legítimo interesse coletivo. A corrupção é um veneno moral, que
degrada as pessoas e contamina a sociedade. Nenhum país conseguiu eliminar
completamente a corrupção, mas é possível — e necessário — reduzir
drasticamente essa prática, punindo duramente os que dela se valem, tornando-a
cada vez mais difícil e arriscada.
O PT
pode se orgulhar também de ter promovido, nesses 12 anos, os mais
significativos avanços na adoção de práticas republicanas, de transparência do
Estado e de combate à corrupção na esfera pública.
Já no primeiro dia de governo, em janeiro de 2003, criamos a
Controladoria Geral da União, institucionalizando em nível ministerial a
fiscalização sistemática sobre a aplicação de recursos federais.
Adotamos como regra o pregão eletrônico, reduzindo a possibilidade de
fraudes em licitações. Criamos o Cadastro Nacional de Empresas Inidôneas e
Suspeitas, excluindo dos contratos públicos fornecedores que cometeram
ilícitos. O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF) passou a
monitorar movimentações atípicas envolvendo agentes públicos. O Conselho
Administrativo de Defesa Econômica (CADE), fortalecido por nova legislação,
intensificou a atuação no combate aos cartéis.
Criamos o Portal da Transparência, que recebe mais de 1 milhão de
consultas por mês e que foi considerado pela ONU uma das cinco melhores
práticas de combate à corrupção em todo o mundo. Aprovamos a Lei de Acesso à
Informação, que colocou o Brasil entre os países que praticam os mais avançados
princípios de governança. Editamos o Decreto 5.497/2005 que reservou para
servidores concursados 50% dos cargos no nível DAS-4 e 75% nos níveis DAS-1,
DAS-2 e DAS-3, que antes eram de nomeação totalmente livre. Portanto, ao
contrário das mentiras difundidas pelos nossos adversários, o governo do PT foi
o primeiro a tomar medidas concretas para combater de fato o aparelhamento
partidário do Estado.
O
Congresso Nacional aprovou, nesse período, a Lei que regulamenta o conflito de
interesses no Executivo Federal, coibindo condutas abusivas de servidores; a
Lei Anticorrupção, que estabelece penas para empresas corruptoras, e a nova Lei
contra organizações criminosas, que regulamenta a chamada delação premiada.
No último dia 16 de março, consolidando esse esforço de 12 anos, a
presidenta Dilma Rousseff enviou ao Congresso, com pedido de urgência na
votação, o projeto de Lei que pune enriquecimento ilícito de servidores, o
projeto que institui a ação de perda de bens obtidos ilegalmente, a extensão do
critério da Ficha Limpa às nomeações para cargos de confiança nos três Poderes
e o projeto que criminaliza a prática de caixa dois nas eleições.
Nosso compromisso de combater a corrupção nunca foi abstrato. Afirmamos,
na prática, o princípio constitucional da autonomia do Ministério Público,
respeitando as indicações para o cargo de Procurador-Geral da República
definidas nas eleições da Associação Nacional do Ministério Público. Recorde-se
que o Procurador- Geral do governo do PSDB arquivou 217 inquéritos criminais
envolvendo autoridades e engavetou outros 242, de um total de 626 denúncias
recebidas. Por isso era chamado, com toda razão, de engavetador-geral da
República.
Ao contrário do que se fazia anteriormente,
passamos a escolher a direção do Departamento de Polícia Federal por critério
de mérito.
Além de garantir a sua autonomia, nosso governo aumentou
significativamente o orçamento da PF, ampliou o quadro de agentes e delegados,
investiu em melhores salários e novos equipamentos. Criamos as delegacias
especializadas no combate à corrupção e desvio de recursos públicos, que já são
17 em todo o país.
Nenhuma
análise objetiva, isenta de sectarismo partidário, deixará de constatar que
esse conjunto de medidas de controle e transparência, implantado pelos governos
do PT, cria fortes obstáculos para o desvio de recursos públicos.
Mas não podemos deixar de fazer a nós mesmos uma pergunta crucial: se
fomos tão ousados e determinados para acabar com a fome, reduzir fortemente a
pobreza e as desigualdades sociais e regionais, gerar milhões de empregos, fortalecer
de modo tão evidente o controle a transparência na administração pública
federal — por que não tivemos a mesma ousadia e determinação para reformar o
sistema político brasileiro, como reivindica a maioria da população, e
estabelecer novos padrões de conduta na vida pública do país?
Reformar a Política brasileira sempre foi um compromisso programático do
PT. Sempre sustentamos que é preciso corrigir antigas e notórias distorções do
sistema partidário e eleitoral, para que ele se torne mais ético e representativo
da sociedade, e também mais aberto à participação cidadã. Ao longo da sua
história, como se sabe, o PT fez diversas tentativas nesse sentido, em parceria
com outros partidos progressistas, entidades da sociedade civil e movimentos
sociais. Em 2004, por exemplo, apresentamos no Congresso Nacional um conjunto
de propostas com este objetivo – entre elas, o financiamento público exclusivo
das campanhas eleitorais — que conseguimos levar a votação em 2006, mas foi
derrotado pela maioria dos partidos.
A verdade, no entanto, é que, não tendo conseguido mudar o sistema
político, acabamos por nos adaptar a ele, passando a reproduzir os
comportamentos dos partidos tradicionais que tanto criticamos.
FINANCIAMENTO EMPRESARIAL, A RAIZ
DO MAL!
Apesar de previsto na legislação e, portanto, praticado legalmente por
todos os partidos, o financiamento empresarial é danoso à independência e à
lisura da atividade política.
Não é porque todos os partidos, sem exceção, o praticam que ele se torna
menos nocivo, principalmente a partidos como o nosso, que nasceram para lutar
não só pela justiça social, mas também por uma política mais limpa e digna.
A Lei 9.504 de 1997, que eliminou todos os limites para as contribuições
de empresas, escancarou as portas dos partidos para a influência do poder
econômico. Ela foi aprovada num Congresso dominado pela base do governo de
então — o PSDB e o atual DEM — na mesma época em que a Constituição foi
alterada para permitir a reeleição do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
O
financiamento empresarial propiciou que as campanhas se tornassem cada vez mais
caras e sofisticadas, o que por si só é uma distorção antidemocrática.
Nesse
contexto, o financiamento de campanhas tornou-se elemento central das relações
entre partidos, especialmente na formação de acordos e coligações entre as
maiores legendas e seus aliados.
A raiz do mal já poderia ter sido extirpada, desde 2014, se tivesse sido
respeitada a vontade dos seis ministros do Supremo Tribunal Federal que votaram
pela inconstitucionalidade do financiamento empresarial, em ação proposta pela
Ordem dos Advogados do Brasil. O entendimento da maioria, no entanto, foi
sobrestado pelo pedido de vistas de um único ministro, que vem manobrando
declaradamente há mais de um ano para manter o status quo.
Mesmo combatendo o financiamento empresarial, nos debates públicos e no
Congresso, o PT praticou, nos últimos anos, o que a legislação permite.
Recebemos contribuições de empresas, dentro da lei, e fizemos campanhas caras,
tão caras quanto às dos demais partidos, que nos criticam de maneira hipócrita.
Basta tomar o exemplo das empresas investigadas na chamada Operação
Lava-jato.
Nas eleições de 2014, o conjunto dessas 16 empresas fez
contribuições a 19 partidos diferentes, no valor total de R$ 222 milhões. Os
valores destinados ao PT e ao PSDB são muito semelhantes: R$ 56 milhões e R$ 54
milhões, respectivamente.
Um partido diferente, como o PT sempre foi, não pode continuar acomodado
a esta situação. Publicamente e no Congresso Nacional, propomos o financiamento
público exclusivo das campanhas. Mas, enquanto ele não se viabiliza, ou até que
não se vede o financiamento empresarial, temos de agir, mais uma vez, com
ousadia e coragem.
Trata-se de repudiar concretamente o rebaixamento da
política pelo financiamento empresarial. Dar o exemplo, que é o mais forte dos
argumentos, na política e na vida. Por isso, estamos propondo que, a partir de
agora, as instâncias do PT não mais aceitem contribuições de empresas para sua
sustentação.
Essa é uma decisão difícil de ser tomada por um grande partido,
especialmente quando ele tem a responsabilidade de defender um projeto
histórico de transformação do país. Mas é um passo necessário, que vai nos
diferenciar novamente das estruturas viciadas que sempre criticamos, do sistema
político que o PT nasceu para modificar. Nós sabemos que só vale a pena fazer
política de cabeça erguida, e isso implica em romper com uma prática que a
sociedade já condenou.
Por isso propomos ao Diretório Nacional:
1. Suspender, imediatamente, o recebimento de qualquer tipo de contribuição
de empresas;
2. Levar essa proposta a debate e deliberação no V Congresso do PT;
3. Conclamar os partidos aliados a se unirem ao PT nessa opção;
4. Fortalecer ainda mais a mobilização política e social por uma reforma
política que estabeleça o financiamento público exclusivo das campanhas
eleitorais.
A partir desse exemplo, estaremos contribuindo para recuperar a
credibilidade da Política como agente de mudança social. Estaremos dizendo ao
nosso povo que é possível mudar e melhorar a política, ao invés de simplesmente
negá-la como fazem os manipuladores e os autoritários.
E
estaremos dando um passo importante para revigorar internamente o PT, pois o
financiamento empresarial foi a porta de entrada no partido de muitos desvios
da política tradicional, que tanto criticamos.
A concentração quase exclusiva da atividade partidária na disputa
político-eleitoral-institucional acarretou um duplo desvio. Primeiro, abriu um
imenso vazio teórico, de análise, reflexões e iniciativas sobre o que vem
acontecendo no Brasil e no mundo.
Segundo, porque a conquista de votos não tem
se misturado à luta de massas, de tal sorte que se possam criar condições de
construir uma força política organizada e estável, um verdadeiro bloco
histórico capaz de inverter a correlação desfavorável na sociedade e de
impulsionar mudanças estruturais.
É preciso mudar o PT para continuar mudando o Brasil.
A TENTATIVA DE CRIMINALIZAR O PT!
Há quase dez anos as elites conservadoras tentam arbitrariamente
criminalizar o PT e seus legítimos governos, desrespeitando o que existe de
mais sagrado na democracia — o voto popular e o Estado de Direito.
Quando ganhamos pela primeira vez as eleições presidenciais, em 2002, as
oligarquias dominantes tentaram inicialmente nos cooptar para a sua fracassada
agenda neoliberal. Queriam domesticar o nosso partido para que ele não
cumprisse os seus compromissos de vida com os trabalhadores e os pobres, e se
limitasse a gerir sem mudar uma das sociedades mais cruéis e injustas do
planeta. Queriam fazer conosco o que já tinham feito com governos anteriores,
impondo ao país, por meio de seus monopólios de comunicação, a agenda antipopular
e antinacional rejeitada nas urnas.
Não puderam deixar de reconhecer, naturalmente, a seriedade e a
capacidade de sacrifício com que enfrentamos a crise herdada dos governos
tucanos, debelando a inflação de dois dígitos e o descontrole fiscal que havia
elevado a dívida pública a 62% do PIB. Mas quando dissemos, no final de 2004,
ao livrar o país da tutela do FMI, que o necessário rigor fiscal e monetário
não era incompatível com desenvolvimento, geração de empregos, aumentos
salariais, distribuição de renda e inclusão social, começaram a voltar-se
contra nós.
Quando
perceberam que o Estado, sob a nossa liderança, não serviria mais unicamente
aos privilegiados, e sim a toda a população, sobretudo aos mais carentes, e que
as elites deixariam de se beneficiar com exclusividade dos fundos públicos,
desencadearam contra o PT e o governo federal uma verdadeira campanha de cerco
e aniquilamento que agora se intensifica.
Incapazes de nos derrotar nas urnas, os eternos “donos do poder” — na
expressão lapidar do grande jurista Raymundo Faoro — apelaram para campanhas de
desmoralização e intimidação, como haviam feito com Getúlio Vargas, em 1954; em
1955, com Juscelino Kubitschek — de quem diziam: “JK não pode ser candidato;
se for, não pode ser eleito; se eleito, não pode tomar posse; se empossado, não
pode governar” - e, em 1964, com João Goulart, quando mergulharam o País
nas trevas da ditadura civil-militar.
Campanhas urdidas e coordenadas em nível de estado maior pelas classes
dominantes tanto foram exitosas no Brasil como lá fora. Seja para destruir
governos democráticos, seja para proscrever partidos de esquerda ou para
censurar ideias e movimentos progressistas. Ainda de memória recente, embora do
século passado, a odiosa praga do macarthismo nos Estados Unidos e o forjado
incêndio do Reichstag, na Alemanha dos anos 1930, que abriu caminho para a
ascensão de Hitler.
Com método, obstinação e grandes recursos midiáticos, as classes dominantes transformam o boato em
notícia, a suspeita em denúncia, a calúnia em verdade. Hierarquizam
calculadamente o noticiário, destacando e apresentando de forma escandalosa os
desvios imputados a pessoas do nosso partido, não importando que sejam reais ou
inventados. Omitem ou escondem, seletivamente, as denúncias contra os partidos
que os servem, por mais graves que sejam.
TENTAM COBRIR O PT COM A LAMA
DE SUA HIPOCRISIA
Aqueles que sempre se beneficiaram das distorções do sistema e que
construíram sua riqueza e poder à sombra da ditadura, passaram a nos atribuir
todas as mazelas crônicas da política brasileira. Quando descobriam que nosso
Partido é sério, mas não é domesticável, colocaram o PT, e só o PT, no banco
dos réus. Mesmo que para isso tenha sido necessário torturar os fatos, violar a
jurisprudência e afrontar a consciência jurídica do país, como ocorreu em
vários momentos da Ação Penal 470.
Nenhum outro partido sofreu uma campanha de desmoralização tão furiosa
quanto a que se fez contra o PT ao longo daquela ação penal. Nada se fez,
minimamente comparável, em relação a escândalos como a corrupção nas obras do
Metrô nos governos do PSDB de São Paulo, ou do desvio de dinheiro público para
campanhas eleitorais do PSDB e do DEM na Lista de Furnas e nos chamados
mensalões de Minas e do Distrito Federal.
Em 2005, acharam que bastaria fazer-nos “sangrar até morrer” e que,
assim, o poder voltaria naturalmente a suas mãos. Estavam convencidos de que o
sonho de um governo popular no país seria algo passageiro e irrelevante.
A ação penal 470 foi utilizada, ao longo de quase sete anos, para
desgastar a imagem do PT e tentar criminalizá-lo. O julgamento daquela ação
ocorreu com inédita pressão da mídia sobre os membros do STF e a prevalência de
aberrações jurídicas como a aplicação da tese do “domínio do fato”, repelida
pelo seu próprio autor, o jurista alemão Carl Roxin. Desde então, tornou-se
desnecessário apresentar provas ou garantir o contraditório, quando se trata de
apontar o dedo contra o PT.
Foi nesse ambiente de arbitrariedade que o PT e o nosso governo
tornaram-se alvos políticos da chamada Operação Lava-Jato. Conduzida por
agentes do Estado que sequer disfarçam seu engajamento partidário, essa
operação avançou pela trilha de violência jurídica aberta no julgamento da AP
470. Criminosos apanhados numa rede de evasão fiscal e lavagem de dinheiro — há
muito conhecida pelo Judiciário e pelo Ministério Público do Paraná — são
premiados com privilégios penais e até financeiros, em troca de depoimentos que
possam incriminar o PT e o governo. Bandidos reincidentes são transformados em
heróis, fazendo acusações sem provas, bastando que apontem para o PT e o
governo.
É essencial para o país investigar desvios na Petrobras — e em qualquer
outro setor — e punir com rigor quem os tenha comprovadamente cometido. Mas
fica cada dia mais evidente o proveito político-partidário a que a investigação
tem servido. Por que razão elas não se estendem às conexões do esquema com
políticos e governos da oposição — que são muitas e notórias.
Por que
o vazamento seletivo de depoimentos capazes de manchar o PT, e tão somente o
PT?
A transformação de um processo em espetáculo de mídia, o constrangimento
que se tenta impor ao direito de defesa, a abolição do princípio da presunção
de inocência e as arbitrariedades cometidas, supostamente em nome do combate à
corrupção, constituem uma ameaça não ao PT, mas à consciência jurídica da
Nação. Estamos assistindo ao nascimento de um estado de exceção dentro do
estado de direito, e contra isso o PT lutará, ao lado das forças democráticas
da sociedade.
"Este texto é uma contribuição pessoal, de autoria múltipla, mas do qual
assumo plena responsabilidade. Ofereço-a a quem queira difundi-la, debatê-la,
criticá-la, editá-la parcialmente, aprofundá-la no que tem de superficial.
Certamente, não agradará a todos (as), mas espero que sirva para nos ajudar a
superar as dificuldades do momento. Sei que o PT é uma rica experiência
partidária, construída com sangue, lágrimas, sofrimentos e esperanças de
milhões. A ele dedicamos nossas vidas. Por isso mesmo, por suas raízes
populares e força transformadora, os que hoje nos atacam não vencerão. Vamos à
luta e por um 5º Congresso participativo, criativo e solidário."
Rui Falcão - Presidente Nacional do PT
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