Revolta na Ucrânia
04 de dezembro de 2013 | 2h 14O Estado de S.Paulo
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Mas a geração mais bem educada, laica e cosmopolita do Oeste ucraniano, que fez a Revolução Laranja em 2004 contra a escandalosa fraude que impediu a eleição da candidata Yulia Tymoshenko (foto abaixo), em favor de Yanukovich, não tem os olhos postos em Moscou. (Depois de nomear a rival primeira-ministra, no ano seguinte, e destituí-la, meses depois, conseguiu em 2011 que ela fosse condenada à prisão por abuso de poder.) A sua referência, como a de seus equivalentes poloneses, é o Ocidente. Eis por que, nas últimas duas semanas, se ergueu uma onda de protestos contra o governo - culminando com a megamanifestação de domingo em Kiev pela renúncia de Yanukovich. Atos públicos ocorreram também em outras cidades.
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Putin exige que a Ucrânia imite a Armênia, que em setembro parou de negociar a criação de vínculos com a UE e anunciou que irá aderir ao bloco eurasiático - a união aduaneira, liderada pela Rússia, das ex-repúblicas soviéticas Belarus e Casaquistão. O autocrata russo, com a costumeira retórica desabrida, comparou os protestos a um pogrom - as violências contra minorias étnicas, que dizimavam notadamente as populações judaicas das aldeias russas e do Leste europeu em geral, não raro com a conivência dos governantes. Yanukovich, aparecendo com estudada desconcentração numa entrevista aos principais canais de TV do país, falou como se nada de anormal houvesse nas ruas, confirmou a viagem a Pequim marcada para hoje e anunciou mais investimentos em infraestrutura.
A reação na Europa à maior crise política da Ucrânia em quase 10 anos foi curiosa. Do Mediterrâneo ao Báltico não houve comentarista que não se apressasse a dizer, ironicamente, que a Ucrânia é o único país da região em que a UE é popular. Os chefes de governo do bloco, a exemplo da chanceler alemã Angela Merkel, limitaram-se a pedir a Yanukovich que evitasse novos derramamentos de sangue. No sábado, as forças de segurança haviam investido com ferocidade contra os ativistas desarmados. Para deixar claro o descontentamento de Washington com o afastamento da Ucrânia da UE, o secretário de Estado John Kerry cancelou a visita que faria esta semana ao país. Mas nem os europeus nem os americanos ignoram a "barreira estrutural" que separa Kiev de Bruxelas, a sede da União.
Economicamente, quanto mais não seja, a Ucrânia é um satélite da Rússia. Isso, não obstante o seu amplo território de 603,6 mil quilômetros quadrados (maior do que Minas Gerais, por exemplo) e a sua condição de grande produtor de grãos, açúcar e minerais não ferrosos, com ampla base industrial e população qualificada. Mas Yanukovich e o seu antecessor Leonid Kuchma travaram o país.
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