Aos 40 anos, Embrapa busca manter relevância após transformar cerrado
Estatal brasileira atua hoje em 22 países africanos, incluindo
Gana
Elogiada por seu papel na transformação do Brasil numa potência
agropecuária nas últimas décadas, a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária) completa 40 anos em abril com uma agenda muito mais abrangente do
que em sua origem e o desafio de se manter relevante num ambiente cada vez mais
competitivo e sujeito a revoluções tecnológicas.
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A companhia também tem expandido seus campos de pesquisa: áreas em que atua há longa data – como melhoramento genético de grãos, hortaliças e gado – hoje convivem com estudos em nanotecnologia, pesca, tecnologia da informação e vinicultura.
A transformação em curso na empresa, no entanto, preocupa especialistas. Eles temem que, diante de tantas novas missões, a Embrapa negligencie questões prioritárias e não consiga acompanhar o ritmo das inovações tecnológicas no setor privado.
Transformação do cerrado
Pesquisadores ouvidos pela BBC Brasil unanimemente apontam como maior conquista da Embrapa a criação de tecnologias para corrigir a acidez do solo do cerrado brasileiro e a adaptação à região de plantas oriundas de outros biomas.Antes das descobertas, até os anos 1970, o bioma era irrelevante para o agronegócio nacional. Hoje, segundo a estatal, responde hoje por 48,5% da produção do país.
Para o professor José Vicente Caixeta Filho, diretor da Esalq-USP (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz), desde então os feitos da empresa ficaram aquém das expectativas. “Esperava-se que as contribuições da Embrapa continuassem, no mínimo, no mesmo nível dos seus primórdios, o que de fato não ocorreu”.
"Esperava-se que as contribuições da Embrapa continuassem, no mínimo, no mesmo nível dos seus primórdios, o que de fato não ocorreu."
José Vicente Caixeta Filho, diretor da
Esalq-USP
Em outubro de 2012, críticas internas à forma como a internacionalização da Embrapa estava sendo conduzida foram apontadas como a principal razão para que o então presidente da companhia, Pedro Arraes, pedisse demissão.
Para Caixeta, os esforços da empresa no exterior deveriam se voltar à consolidação de centros remotos da companhia no Brasil. “Temos muita lição de casa doméstica: é importante incrementar a pesquisa em outros biomas.”
Ele cita, entre os campos de estudo que mereceriam mais atenção da empresa, as florestas tropicais. Pesquisas nessa área, segundo o professor, permitiriam viabilizar a produção sustentável, por exemplo, de frutas típicas da Amazônia, que poderiam ganhar mercados no Brasil e no exterior.
Revisão da estratégia
Segundo o presidente da Embrapa, Maurício Antônio Lopes, a internacionalização da Embrapa “não tira o foco da empresa às assimetrias no Brasil”. Ainda assim, ele diz que a estatal está revendo sua estratégia na África. “Não faz sentido a Embrapa dispersar sua ação num grande número de países, fragmentando recursos que são sempre escassos.”Hoje, a empresa atua em 22 nações africanas, além de manter programas em países latino-americanos, caribenhos e em Timor Leste.
Para o ex-ministro da Agricultura e coordenador do Centro de Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Roberto Rodrigues, a atuação externa da Embrapa não será um problema “desde que os recursos para esse tema não sejam maiores do que para desenvolvimento tecnológico interno”.
Ele defende que a Embrapa priorize, em suas pesquisas, a busca por novos fertilizantes. Segundo Rodrigues, o Brasil hoje importa quase 80% de alguns tipos de fertilizantes, cruciais para o aumento da produtividade das lavouras. “É um dado dramático”.
O ex-ministro diz ainda que a Embrapa tem competido no mercado em condições desvantajosas: enquanto a estatal vende aos produtores nacionais apenas novas variedades de plantas ou vantagens tecnológicas, multinacionais oferecem, além desses itens, crédito, máquinas, assistência técnica, fertilizantes, pesticidas e, em alguns casos, até compram a produção.
Embrapa diz investir em estudos genéticos de espécies que não
interessam ao setor privado
Transgênicos
O reitor da Universidade Federal de Goiás e presidente da Ridesa (Rede Interuniversitária para o Desenvolvimento do Setor Sucroalcoleiro), Edward Madureira, também considera que a Embrapa não tem conseguido competir com companhias privadas em alguns setores. “Hoje o setor privado tomou conta e tem o protagonismo no desenvolvimento de transgênicos para as principais culturas”.Maurício Antônio Lopes, presidente da Embrapa, reconhece que a empresa perdeu espaço no mercado de variedades de milho, soja e algodão, mas diz se tratar de processo natural. Segundo ele, “não faz nenhum sentido fazer investimento de recursos públicos para competir com empresas que são eficientes e estão provendo inovações para o mercado”.
Lopes afirma que a empresa está intensificando o trabalho de melhoramento genético em espécies em que o setor privado dificilmente investirá e que a Embrapa terá melhores condições de competir no mercado caso o Congresso aprove a criação de uma subsidiária da empresa voltada para negócios, proposta atualmente em tramitação.
Para Helena Nader, presidente da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), o maior desafio da Embrapa será renovar seu quadro, à medida que os pesquisadores que a moldaram se aposentam.
Ela lembra que, em seu início, a companhia enviou aos Estados Unidos e Europa grande número de pesquisadores, para que fizessem mestrado e doutorado nas melhores universidades do ramo. Após a volta, diz ela, e com o auxílio de outros institutos de pesquisa, esses profissionais “criaram a agricultura dos trópicos”.
“Espero que os novos pesquisadores entrem com o mesmo espírito daqueles primeiros.”
da extensão rural começaram a levantar a questão da falta de conhecimentos técnicos, gerados no País, para repasse aos agricultores.
O então ministro da Agricultura, Luiz Fernando Cirne Lima, constituiu um grupo de trabalho para definir objetivos e funções da pesquisa agropecuária, identificar limitações, sugerir providências, indicar fontes e formas de financiamento, e propor legislação adequada para assegurar a dinamização desses trabalhos.
Em 7 de dezembro de 1972, o então presidente da República, Emílio Garrastazu Médici, sancionou a Lei nº 5.851, que autorizava o Poder Executivo a instituir empresa pública, sob a denominação de Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), vinculada ao Ministério da Agricultura. O artigo 7º estabelecia um prazo de 60 dias para a expedição dos estatutos e determinava que o decreto fixasse a data de instalação da empresa. O Decreto nº 72.020, datado de 28 de março de 1973, aprovou os estatutos da Empresa e determinou sua instalação em 20 dias. Este foHistória da Embrapa
Na década de 1970, a agricultura se intensificava no Brasil. O crescimento acelerado da população e da renda per capita, e a abertura para o mercado externo mostravam que, sem investimentos em ciências agrárias, o País não conseguiria reduzir o diferencial entre o crescimento da demanda e o da oferta de alimentos e fibras.
No âmbito do Ministério da Agricultura, um grupo debatia a importância do conhecimento científico para apoiar o desenvolvimento agrícola. Nesse momento, os profissionais i atualizado em 04 de agosto de 1997 pelo Decreto n° 2.291.
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