Repúdio e indignação: de onde vem a reputação das armas químicas?
Com todas as atrocidades na Síria, uso de armas químicas é
inaceitável para especialistas
Há pouco mais de três semanas o mundo se deparou com os
horrores de um suposto ataque químico em larga escala nos arredores de Damasco,
na Síria.
Mais de 100 mil pessoas já morreram desde o início da guerra no país, muitos
sofreram mortes horríveis — o que levou muitas pessoas a se questionarem por que
o uso de armas químicas teve tanta repercussão e causou tanta indignação."Armas químicas são inaceitáveis", diz Thomas Nash, monitor de armamentos da Article 36, ONG britânica que, segundo Nash, "trabalha para prevenir o mal inaceitável causado por certas armas".
"Devemos lembrar que todas as normas e regulamentos sobre armamentos permitidos têm um objetivo. Elas existem para aliviar e prevenir o sofrimento humano a que estamos assistindo. E isso se aplica a bombas de fragmentação, explosivos em áreas povoadas e armas químicas", disse Nash.
Uso
Mas as armas químicas são especialmente terríveis. O gás é em geral invisível e chega a todos os possíveis esconderijos, causando morte agonizante das vítimas.
O horror das armas químicas nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial ensinou o mundo: "Nunca mais".
Durante a Segunda Guerra, o líder nazista Adolf Hitler usou gás Zyklon B contra judeus e outras vítimas em campos de concentração. O Japão usou esse gás venenoso contra os chineses nos anos 30. Mussolini usou gás na antiga Abissínia (hoje Etiópia) na Segunda Guerra e o Egito usou contra o Iêmen em 1967 e há relatos de uso de gás mostarda na guerra entre o Iraque e o Irã.
Os Estados Unidos também usaram um agente químico desfolhante, o agente laranja, no Vietnã, que teria matado milhares e até hoje causa desfigurações em bebês.
Milagre
Nada se compara, no entanto, ao que aconteceu em Halabja. Em março de 1988, o presidente do Iraque, Saddam Hussein, atacou uma cidade curda com gás mostarda e gás nervoso, matando mais de cinco mil pessoas quase que imediatamente.Kamaran Haider tinha onze anos na época. Quando o bombardeio começou, ele correu com a família para um abrigo.
Haider conta que no início eram apenas bombas convencionais, até que sentiram um estranho odor de fruta e alho. Eles então entenderam o que havia acontecido.
"Eles (meus pais) começaram a gritar e chorar. Foi horrível porque a bomba química é muito diferente das demais. De outras bombas é possível se esconder em um abrigo, em uma montanha. Mas o gás químico se mistura ao ar. Não dá para se esconder", disse.
"Quando minha mãe percebeu que se tratava de arma química, ela correu para a cozinha e trouxe toalhas… e um balde de água. Disse então: 'Coloquem no rosto para prevenir queimaduras'. As armas químicas queimam a pele e podem deixá-lo cego".
A mãe de Haider saiu do abrigo com seu irmão para procurar um garoto que tinha corrido para fora. Encontrou-o morto. Segundos depois, ela começou a sentir os efeitos do gás. Naquele dia, Haider perdeu a mãe, o pai, a única irmã, dois irmãos e um primo.
"É um milagre eu ter sobrevivido. Das 35 pessoas que estavam no abrigo, apenas eu e meu amigo Hoshyar sobrevivemos", disse.
Perigo
São as possibilidades de que uma nova Halabja se repita — ou um outro ataque como o de Damasco — que está movimentando a comunidade internacional de forma tão intensa.O coronel britânico Hamish de Bretton-Gordon, que já foi inspetor de armas químicas, teme que o que ocorreu nos arredores de Damasco volte a se repetir, em escala maior.
"No ataque de 21 de agosto, talvez 100, talvez 200 litros de gás sarin tenham sido usados. Acreditamos que ele (Bashar al-Assad) tenha entre 100 e mil toneladas de sarin, com as quais poderia matar dezenas de milhares, talvez centenas de milhares. É contra isso que devemos nos posicionar", disse.
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