Em meados de
março, uma manobra articulada por Renan Calheiros (PMDB-AL), Fernando Collor (PTB-AL)
e Eduardo Cunha (PMDB-RJ) por muito pouco não provocou uma enorme crise no
governo da presidente Dilma Rousseff (PT).
Os três
parlamentares quase derrubaram o veto da presidente à prorrogação até 2042 dos
subsídios sobre a energia elétrica para grandes empresas do Nordeste. Corre à
boca pequena que se o veto tivesse sido derrubado, o Ministro da Fazenda,
Joaquim Levy, pediria demissão.
A manutenção
do subsídio elétrico provocaria um custo extra de R$ 5 bilhões nas contas do
Tesouro neste ano, tornando mais difícil cumprir a meta de superávit primário
de 1,2% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2014.
Na Câmara,
Eduardo Cunha já havia comandado, com sucesso, a derrubada do veto com o apoio
de 310 deputados. Faltava o Senado.
A manobra para
tentar derrubar o veto de Dilma no Senado, que acabou fracassada, foi comandada
pelo presidente do Senado, Renan Calheiros.
Para tentar
viabilizar sua manobra, Renan foi ao gabinete do presidente da Câmara, Eduardo
Cunha (PMDB-RJ), acompanhado do senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL) para
pedir a suspensão da sessão da Câmara. Isso garantiu ao Congresso continuar
funcionando para que o veto fosse analisado. Ao lado de Renan, Collor foi um
dos principais articuladores da manobra contrária ao governo.
Antes da
votação no Senado, o governo agiu. Os ministros Pepe Vargas (Relações
Institucionais) e Eduardo Braga (Minas e Energia) levaram a Renan Calheiros e a
senadores governistas a mensagem de que a queda do veto poria em risco o ajuste
fiscal e estava levando, inclusive, o ministro Joaquim Levy a dizer que
“preferia pedir demissão do cargo”.
O veto acabou
não caindo por apenas dois votos no Senado – 39 senadores votaram pela
derrubada, dois a menos do que o mínimo de 41 necessário.
Posteriormente,
o ministro Joaquim Levy disse a interlocutores que “não tenho nenhuma intenção
nem motivos para deixar o governo” e está comprometido com a missão que lhe foi
dada pela presidente Dilma de ajustar a política econômica.
Mais enfrentamento
Apesar de não
ter conseguido derrubar o veto de Dilma sobre os subsídios da energia elétrica,
Renan Calheiros não demonstra que irá recuar em seu objetivo de dificultar a
vida do governo e já conseguiu impor várias derrotas ao governo.
O presidente
do Senado prometeu que vai barrar o nome indicado por Dilma para ocupar a vaga
de Joaquim Barbosa no Supremo Tribunal Federal (STF). Todo indicado para o STF
precisa, obrigatoriamente, ter seu nome aprovado no Senado para tornar-se
ministro.
O jurista Luiz
Edson Fachin, advogado, professor e um dos maiores nomes do Direito Civil
brasileiro seria a primeira opção de indicação do governo para a vaga de
Barbosa. Consultado pela Casa Civil, Calheiros disse que o nome de Fachin não
passará pelo Senado porque o jurista teria ligações com o PT.
A PEC da
Bengala, outra derrota imposta à Dilma, foi aprovada no Congresso Nacional com
votação expressiva. A medida amplia de 70 para 75 anos a idade para a
aposentadoria compulsória de magistrados de tribunais superiores e do Tribunal
de Contas da União (TCU) e tira de Dilma o direito de indicar cinco novos
ministros para o STF até o final do seu segundo mandato.
A origem do ódio
“Não é
independência, é oposição. E é um movimento sem volta. Não existe a hipótese de
ele [Renan] voltar a apoiar esse governo”. A frase foi dita por um dos
principais interlocutores de Renan Calheiros.
Por trás de
tamanha indignação, um fato – a inclusão do nome Renan entre os políticos que
responderão a inquéritos criminais por envolvimento com o desvio de recursos na
Petrobras.
Renan
Calheiros e Eduardo Cunha, presidentes do Senado e da Câmara, respectivamente,
consideram que o governo teve ação determinante na escolha dos nomes que o procurador-geral
da República, Rodrigo Janot, submeteu ao Supremo Tribunal Federal (STF) ao
encaminhar os pedidos de inquérito contra as autoridades com foro privilegiado
denunciadas pelos delatores da Operação Lava Jato. Ambos acreditam que Dilma
poderia ter agido no sentido de evitar que eles aparecessem na lista dos
investigados.
A tese
encampada por Renan e Cunha não faz sentido. Fosse assim, não teria Janot
proposto inquérito contra dezenas de políticos governistas e apenas um da
oposição. Nem teria deixado em dúvida a origem dos recursos usados na campanha
presidencial de Dilma em 2010.
“O Renan era o
principal apoio do governo aqui e passou, junto com Cunha e outros, a ser
apresentado como o grande vilão da corrupção na Petrobras. Ora, a responsabilidade
pelos crimes na Petrobras é de Dilma, não pode ser imputada ao Congresso”, diz
um senador tomando as dores do presidente do Senado e garantindo que “ele não
vai deixar barato”.
Deputado
Federal por 10 anos (1982 a 1992) e senador desde 1994 até os dias atuais [21
anos no cargo], Renan Calheiros já cansou de provar que conhece todos os
atalhos não só para chegar ao poder, mas para nele permanecer.
Foi líder do
governo Collor no Congresso Nacional, vice-presidente executivo da Petrobras
Química S.A. (Petroquisa) de 1993 a 1994 no governo Itamar Franco, Ministro da
Justiça do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e Presidente do Senado
Federal por duas vezes.
Até onde irá
Renan é uma pergunta que, até agora, ninguém pode responder ao certo.
Fonte: Pragmatismo Político
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