Cancelamento de viagem aos EUA esfria, mas não deve alterar relações bilaterais
Clima não era favorável à visita, mas episódio deve cair no esquecimento, pois há interesses compatíveis em jogo
Por - especial para o iG |
A decisão da presidente Dilma Rousseff de cancelar a visita de Estado que faria a Washington em 23 de outubro – e deixar em aberto a possibilidade de realizá-la em outra data – esfria as relações entre Brasil e EUA, mas na prática não deve alterar os acordos bilaterais, nem os interesses estratégicos entre os dois lados, acreditam analistas.
Presidente Dilma Rousseff participa de cerimônia no Palácio do Planalto, em Brasília (foto de arquivo)
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Dilma seria a única chefe de Estado a ser recebida por Barack Obama em visita oficial este ano. O último presidente do Brasil a ser convidado para uma viagem como esta foi Fernando Henrique Cardoso, em 1995.
Para o coordenador do curso de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), Eiiti Sato, o cancelamento já era esperado e, de certa forma, tornou-se inevitável. “Do jeito que o caso foi tratado inicialmente pelo governo brasileiro, ficou difícil recuar”, afirmou.
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Sato, no entanto, critica a diplomacia – ou a falta dela – do lado do Brasil. “Acho lamentável todo o episódio. Tínhamos um problema, que foi transformado em outro, ainda maior. Se não fosse a exacerbação inicial, daria para ter mantido a viagem. Mas depois que falou, fica difícil engolir as palavras e voltar atrás."
Segundo o professor da UnB, todos os países tentam de alguma forma monitorar os outros para defender seus interesses. “Eu parto do pressuposto de que todos os países estão nos “espionando”: China, Argentina, Estados Unidos. E o Brasil deve fazer o mesmo."
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Ele lembra que o Brasil não é um caso isolado de alvo de espionagem por parte dos americanos, mas a resposta ao fato foi única. “A política externa brasileira vem sofrendo já faz algum tempo de uma presunção desmedida. Precisamos dos nossos vizinhos, todos eles. Não podemos prescindir de ninguém, seja Bolívia ou Paraguai, e muito menos dos EUA”, avaliou.
Apesar do mal estar momentâneo, no longo prazo o caso não deve ter repercussões importantes, acredita o embaixador Luiz Augusto de Castro Neves, presidente do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri). “O clima agora não era favorável à visita. Mas no longo prazo o evento deve cair no esquecimento, pois os interesses dos dois países são muito mais compatíveis do que contraditários”, disse.
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Para Castro Neves, o cancelamento é ruim para as duas partes, mas o Brasil sai ainda mais prejudicado por ser a parte mais “fraca”. Entretanto, há pouco risco de que as animosidades cresçam. “O Brasil não é uma ameaça para os EUA. E somos importantes parceiros comerciais”, completou.
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