Enquete
Fernando Haddad o 32º
Os detratores carimbaram sua imagem como o segundo
"poste" de Lula. A alcunha pejorativa era uma referência à eleição de Dilma
Rousseff à presidência da República em 2010 e à elevação do também petista
Fernando Haddad à condição de candidato do ex-presidente e do PT à prefeitura de
São Paulo em 2012. Foi vitória dupla: o poste Fernando Haddad acendeu e ascendeu
à condição de prefeito da mais importante capital do País.
Leia também:
Entenda o ranking Os 60 mais poderosos do País
Confira o ranking Os 60 mais poderosos do País
O próprio Haddad teve de admitir a brincadeira – não sem uma dose cavalar de ironia – em sua fala de vitória a militantes petistas, na Avenida Paulista, em novembro de 2012. O então prefeito recém-eleito lembrava ali um discurso de campanha do ex-presidente, em Campinas, no qual Lula sublinhava a expressão usada com galhardia pela oposição. Bola fora dos adversários, Haddad dava de ombros: tanto Dilma quanto ele estavam eleitos em suas primeiras campanhas políticas.
A história seguinte mostrou que havia um tanto de política partidária na tese do "poste". Como Dilma, Haddad até poderia ser um noviço em campanhas, mas tinha experiência política. Exibia uma larga bagagem como militante do PT, como formulador de programas do partido e também como ministro. Afinal, sete anos antes, mal saído dos 40, Haddad assumira o Ministério da Educação. E dali saíra com uma folha respeitável de serviços prestados.
Ministro até o ano anterior, Fernando Haddad foi escolhido por Lula para a disputa na capital paulista em detrimento de nomes tradicionais do PT, entre os quais a ex-prefeita Marta Suplicy. Para ampliar o tempo de propaganda na televisão, o partido buscou aliança com o PP de Paulo Maluf, que, embora seja um aliado no governo federal, era um adversário histórico em São Paulo.
Muita gente viu aquela aproximação como um tiro no pé. A já histórica foto de Lula (com Haddad de lado, meio constrangido) apertando a mão de Maluf para celebrar a união irritou a ex-prefeita Luiza Erundina (PSB), que desistiu de ser a vice de Haddad. A campanha também correu sob fogo cruzado – na mesma época do julgamento, no Supremo Tribunal Federal, do escândalo do Mensalão. Mesmo assim, o PT, mais uma vez, levou a melhor sobre o PSDB de José Serra, derrotado em segundo turno de votação.
A família
Fernando Haddad nasceu no dia 25 de janeiro de 1963, em São Paulo, mais precisamente na Vila Mariana. É o segundo dos três filhos de Khalil Haddad, libanês que imigrou para o Brasil em 1947, e Norma Thereza Goussain Haddad, brasileira filha de libaneses nascida no Brasil. O pai se estabeleceu como comerciante atacadista de tecidos, abrindo a loja Mercantil Paulista de Tecidos, na Rua Comendador Abdo Schahin, paralela ao formigueiro da Rua 25 de Março, maior shopping a céu aberto da América Latina.
Irmão de Priscila e Lúcia, Fernando passou a infância no bairro Planalto Paulista, na zona sul de São Paulo, onde bateu sua bolinha em improvisados campos de várzea. Fez a pré-escola e o ensino fundamental no Ateneu Ricardo Nunes e o atual ensino médio no Colégio Bandeirantes. Trabalhou na loja responsável pelo sustento da família até os 20 anos, dividindo os afazeres do comércio com os estudos na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, da USP, na qual ingressou em 1981.
Conhecido entre os amigos como Dandão, no terceiro ano da faculdade começou a interessar-se pelo debate político, na esteira do período de distensão da ditadura militar. Elegeu-se tesoureiro e depois presidente do Centro Acadêmico XI de Agosto, atividades que lhe serviram de porta de entrada para a política institucional. Participou intensamente das passeatas e comícios em favor das Diretas Já, movimento de massa que exigia o restabelecimento das eleições para presidente com voto popular. Nessa época, filiou-se ao Partido dos Trabalhadores.
Além do curso de Direito, Fernando Haddad fez mestrado em Economia, concluído em 1990, e doutorado em Filosofia, em 1996, todos na USP. Em 1988 casou-se com a dentista Ana Estela, antiga namorada dos tempos de adolescente. O casal tem dois filhos: Frederico, nascido em 1992, e Ana Carolina, em 2000.
Antes de ingressar no serviço público, atuou no ramo de incorporação e construção, em sociedade com o cunhado engenheiro, Paulo Nazaré; foi analista de investimentos e consultor na Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), onde criou em 1998 a tabela Fipe. É o seu lado prático. O teórico, formado pela leitura de pensadores socialistas, continuou desenvolvendo como professor do departamento de ciência política da USP, cargo que assumiu em 1997 e do qual está licenciado. Haddad costuma dizer que, um dia, voltará a lecionar.
Da universidade para a política
A saída da vida acadêmica para a política se deu em 2001, quando assumiu a função de chefe de gabinete da Secretaria de Finanças e Desenvolvimento Econômico, na gestão da prefeita Marta Suplicy, integrando-se à equipe encarregada de equacionar o desequilíbrio fiscal, sem muito sucesso. Em 2003 transferiu-se para a esfera federal: assessor especial do Ministério do Planejamento de Guido Mantega. Foi um dos formatadores da Lei de Parcerias Público-Privadas, as PPPs, destinada a estimular empresários a investir em áreas consideradas estratégicas pelo governo federal. No ano seguinte continuou sua escalada, chegando ao cargo de secretário executivo do Ministério da Educação, à época comandado por Tarso Genro.
Fernando Haddad assumiu o Ministério da Educação no governo Lula em 29 de julho de 2005. Polêmica, sua gestão registrou consideráveis avanços. Com o Plano de Desenvolvimento da Educação, posto em prática dois anos depois, inaugurou uma visão sistêmica da educação, que visava atuar da creche à pós-graduação. Também durante a sua gestão no MEC criou o programa Universidade para Todos (ProUni) que, em janeiro de 2012, segundo dados do governo federal, atingiu a marca de um milhão de bolsas de estudos concedidas a estudantes de baixa renda em universidades privadas.
O embrião do projeto surgiu quando Haddad ainda estava na Secretaria de Finanças de Marta Suplicy, quando propôs uma lei municipal que permitia a transformação de débitos tributários de instituições privadas de ensino em bolsas de estudos. Continuou dando tratos ao assunto quando assessorou Guido Mantega no Planejamento, discutindo com universidades particulares a troca de tributos por bolsas. Já atuando como secretário executivo do MEC, em 2004, concretizou a ideia na forma de projeto de lei federal.
Em 2009, Haddad ampliou o Exame Nacional de Ensino Médio (Enem). Hoje, mais de 60 universidades federais e privadas utilizam a nota do Enem para substituir o antigo vestibular, à semelhança dos sistemas utilizados em outros países, como o SAT americano. Com a enorme participação de estudantes, algumas falhas têm ocorrido, a mais grave delas um vazamento da prova, no primeiro ano de implantação.
Artes marciais
A condução do Enem por Fernando Haddad foi criticada por partidos de oposição e articulistas de jornais e revistas como um ponto fraco do ex-ministro durante a campanha à prefeitura de São Paulo em 2012. Mas Haddad estava bem preparado: não à toa, aprendeu a lutar tae-kwon-do nos tempos de Ministério da Educação. Felizmente, até agora não precisou valer-se dos conhecimentos da arte marcial. Em outro campo, publicou livros, entre os quais "O Sistema Soviético", "Em Defesas do Socialismo" e "Trabalho e Linguagem".
Uma maior democratização do ensino superior e o orçamento recorde – em 2012, seu último ano, a pasta garantiria mais de R$ 80 bilhões – foram as principais marcas de sua gestão à frente do MEC.
Os maiores desafios do cargo de prefeito, além de ter nas mãos a responsabilidade de administrar uma das maiores cidades do mundo, centro financeiro e nervoso do Brasil, são cumprir as promessas de campanha, como qualquer bom político: criar e manter um Bilhete Único Mensal no valor de R$ 140 que permite ao usuário de transporte fazer um número ilimitado de viagens; a construção de 150 km de corredores de ônibus e parceria com o Metrô para novas estações; a construção de três hospitais e de 43 unidades básicas de saúde, além de agendamento de exame e pequenas cirurgias nas 31 subprefeituras. Entre as principais propostas do ex-candidato ainda estão água encanada e esgotos em todas as residências da capital.
Ao reajustar o valor das passagens de ônibus (de R$ 3 para R$ 3,20), em acordo com o governo federal, Fernando Haddad enfrentou a sua primeira grande crise política: os protestos e manifestações contra o aumento e a favor da "tarifa zero" tomaram conta da capital paulista, foram violentamente combatidos pela PM e se alastraram pelo País e até no exterior.
Neste momento, mais fragilizado politicamente e em baixa nas pesquisas, Haddad busca reaproximação com a base do PT. Adotou tom mais humilde – que nunca foi muito o seu forte – e passou a buscar maior interlocução com a sua base de apoio. Tem alguns anos para provar que aprendeu bem as lições do mestre.
Leia também:
Entenda o ranking Os 60 mais poderosos do País
Confira o ranking Os 60 mais poderosos do País
O próprio Haddad teve de admitir a brincadeira – não sem uma dose cavalar de ironia – em sua fala de vitória a militantes petistas, na Avenida Paulista, em novembro de 2012. O então prefeito recém-eleito lembrava ali um discurso de campanha do ex-presidente, em Campinas, no qual Lula sublinhava a expressão usada com galhardia pela oposição. Bola fora dos adversários, Haddad dava de ombros: tanto Dilma quanto ele estavam eleitos em suas primeiras campanhas políticas.
A história seguinte mostrou que havia um tanto de política partidária na tese do "poste". Como Dilma, Haddad até poderia ser um noviço em campanhas, mas tinha experiência política. Exibia uma larga bagagem como militante do PT, como formulador de programas do partido e também como ministro. Afinal, sete anos antes, mal saído dos 40, Haddad assumira o Ministério da Educação. E dali saíra com uma folha respeitável de serviços prestados.
Ministro até o ano anterior, Fernando Haddad foi escolhido por Lula para a disputa na capital paulista em detrimento de nomes tradicionais do PT, entre os quais a ex-prefeita Marta Suplicy. Para ampliar o tempo de propaganda na televisão, o partido buscou aliança com o PP de Paulo Maluf, que, embora seja um aliado no governo federal, era um adversário histórico em São Paulo.
Muita gente viu aquela aproximação como um tiro no pé. A já histórica foto de Lula (com Haddad de lado, meio constrangido) apertando a mão de Maluf para celebrar a união irritou a ex-prefeita Luiza Erundina (PSB), que desistiu de ser a vice de Haddad. A campanha também correu sob fogo cruzado – na mesma época do julgamento, no Supremo Tribunal Federal, do escândalo do Mensalão. Mesmo assim, o PT, mais uma vez, levou a melhor sobre o PSDB de José Serra, derrotado em segundo turno de votação.
A família
Fernando Haddad nasceu no dia 25 de janeiro de 1963, em São Paulo, mais precisamente na Vila Mariana. É o segundo dos três filhos de Khalil Haddad, libanês que imigrou para o Brasil em 1947, e Norma Thereza Goussain Haddad, brasileira filha de libaneses nascida no Brasil. O pai se estabeleceu como comerciante atacadista de tecidos, abrindo a loja Mercantil Paulista de Tecidos, na Rua Comendador Abdo Schahin, paralela ao formigueiro da Rua 25 de Março, maior shopping a céu aberto da América Latina.
Irmão de Priscila e Lúcia, Fernando passou a infância no bairro Planalto Paulista, na zona sul de São Paulo, onde bateu sua bolinha em improvisados campos de várzea. Fez a pré-escola e o ensino fundamental no Ateneu Ricardo Nunes e o atual ensino médio no Colégio Bandeirantes. Trabalhou na loja responsável pelo sustento da família até os 20 anos, dividindo os afazeres do comércio com os estudos na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, da USP, na qual ingressou em 1981.
Conhecido entre os amigos como Dandão, no terceiro ano da faculdade começou a interessar-se pelo debate político, na esteira do período de distensão da ditadura militar. Elegeu-se tesoureiro e depois presidente do Centro Acadêmico XI de Agosto, atividades que lhe serviram de porta de entrada para a política institucional. Participou intensamente das passeatas e comícios em favor das Diretas Já, movimento de massa que exigia o restabelecimento das eleições para presidente com voto popular. Nessa época, filiou-se ao Partido dos Trabalhadores.
Além do curso de Direito, Fernando Haddad fez mestrado em Economia, concluído em 1990, e doutorado em Filosofia, em 1996, todos na USP. Em 1988 casou-se com a dentista Ana Estela, antiga namorada dos tempos de adolescente. O casal tem dois filhos: Frederico, nascido em 1992, e Ana Carolina, em 2000.
Antes de ingressar no serviço público, atuou no ramo de incorporação e construção, em sociedade com o cunhado engenheiro, Paulo Nazaré; foi analista de investimentos e consultor na Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), onde criou em 1998 a tabela Fipe. É o seu lado prático. O teórico, formado pela leitura de pensadores socialistas, continuou desenvolvendo como professor do departamento de ciência política da USP, cargo que assumiu em 1997 e do qual está licenciado. Haddad costuma dizer que, um dia, voltará a lecionar.
Da universidade para a política
A saída da vida acadêmica para a política se deu em 2001, quando assumiu a função de chefe de gabinete da Secretaria de Finanças e Desenvolvimento Econômico, na gestão da prefeita Marta Suplicy, integrando-se à equipe encarregada de equacionar o desequilíbrio fiscal, sem muito sucesso. Em 2003 transferiu-se para a esfera federal: assessor especial do Ministério do Planejamento de Guido Mantega. Foi um dos formatadores da Lei de Parcerias Público-Privadas, as PPPs, destinada a estimular empresários a investir em áreas consideradas estratégicas pelo governo federal. No ano seguinte continuou sua escalada, chegando ao cargo de secretário executivo do Ministério da Educação, à época comandado por Tarso Genro.
Fernando Haddad assumiu o Ministério da Educação no governo Lula em 29 de julho de 2005. Polêmica, sua gestão registrou consideráveis avanços. Com o Plano de Desenvolvimento da Educação, posto em prática dois anos depois, inaugurou uma visão sistêmica da educação, que visava atuar da creche à pós-graduação. Também durante a sua gestão no MEC criou o programa Universidade para Todos (ProUni) que, em janeiro de 2012, segundo dados do governo federal, atingiu a marca de um milhão de bolsas de estudos concedidas a estudantes de baixa renda em universidades privadas.
O embrião do projeto surgiu quando Haddad ainda estava na Secretaria de Finanças de Marta Suplicy, quando propôs uma lei municipal que permitia a transformação de débitos tributários de instituições privadas de ensino em bolsas de estudos. Continuou dando tratos ao assunto quando assessorou Guido Mantega no Planejamento, discutindo com universidades particulares a troca de tributos por bolsas. Já atuando como secretário executivo do MEC, em 2004, concretizou a ideia na forma de projeto de lei federal.
Em 2009, Haddad ampliou o Exame Nacional de Ensino Médio (Enem). Hoje, mais de 60 universidades federais e privadas utilizam a nota do Enem para substituir o antigo vestibular, à semelhança dos sistemas utilizados em outros países, como o SAT americano. Com a enorme participação de estudantes, algumas falhas têm ocorrido, a mais grave delas um vazamento da prova, no primeiro ano de implantação.
Artes marciais
A condução do Enem por Fernando Haddad foi criticada por partidos de oposição e articulistas de jornais e revistas como um ponto fraco do ex-ministro durante a campanha à prefeitura de São Paulo em 2012. Mas Haddad estava bem preparado: não à toa, aprendeu a lutar tae-kwon-do nos tempos de Ministério da Educação. Felizmente, até agora não precisou valer-se dos conhecimentos da arte marcial. Em outro campo, publicou livros, entre os quais "O Sistema Soviético", "Em Defesas do Socialismo" e "Trabalho e Linguagem".
Uma maior democratização do ensino superior e o orçamento recorde – em 2012, seu último ano, a pasta garantiria mais de R$ 80 bilhões – foram as principais marcas de sua gestão à frente do MEC.
Os maiores desafios do cargo de prefeito, além de ter nas mãos a responsabilidade de administrar uma das maiores cidades do mundo, centro financeiro e nervoso do Brasil, são cumprir as promessas de campanha, como qualquer bom político: criar e manter um Bilhete Único Mensal no valor de R$ 140 que permite ao usuário de transporte fazer um número ilimitado de viagens; a construção de 150 km de corredores de ônibus e parceria com o Metrô para novas estações; a construção de três hospitais e de 43 unidades básicas de saúde, além de agendamento de exame e pequenas cirurgias nas 31 subprefeituras. Entre as principais propostas do ex-candidato ainda estão água encanada e esgotos em todas as residências da capital.
Ao reajustar o valor das passagens de ônibus (de R$ 3 para R$ 3,20), em acordo com o governo federal, Fernando Haddad enfrentou a sua primeira grande crise política: os protestos e manifestações contra o aumento e a favor da "tarifa zero" tomaram conta da capital paulista, foram violentamente combatidos pela PM e se alastraram pelo País e até no exterior.
Neste momento, mais fragilizado politicamente e em baixa nas pesquisas, Haddad busca reaproximação com a base do PT. Adotou tom mais humilde – que nunca foi muito o seu forte – e passou a buscar maior interlocução com a sua base de apoio. Tem alguns anos para provar que aprendeu bem as lições do mestre.
Nenhum comentário:
Postar um comentário