SEM PRESSA COM A DOR ALHEIA
Editorial
16/09/2013 23:54 - Atualizado em 17/09/2013 00:07
"Prometo
que, ao exercer a arte de curar, mostrar-me-ei sempre fiel aos preceitos da honestidade,
da caridade e da ciência. Penetrando no interior dos lares, meus olhos serão
cegos, minha língua calará os segredos que me forem revelados, o que terei como
preceito de honra. Nunca me servirei da minha profissão para corromper os
costumes ou favorecer o crime. Se eu cumprir este juramento com fidelidade,
goze eu para sempre a minha vida e a minha arte com boa reputação entre os
homens; se o infringir ou dele afastar-me, suceda-me o contrário".![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjtxEISDZAnaxS2Fo3uxmqVv7PeTq_wl4B96Q6NLO0FyxqS0NOGC04cdGrDDJR2kWld1wp6dS3xyJlU7zyq9S16jIM-m_Ldzy9qomeENzJDa-232kDu8uF-VdcPwRSmrFbblb-RIE2u4Wyk/s1600/imagesCAE6EH0C.jpg)
Desde que
o Ministério da Saúde anunciou os programa Mais Médicos, os caciques dos CRMs
declaram guerra ao governo federal, que só queria resolver o problema da
defasagem de médicos no país, sobretudo nas regiões mais pobres, onde o profissional
de jaleco branco e estetoscópio no pescoço faz parte do imaginário da
população, que todos os dias padece nas filas das unidades de saúde e nos
corredores dos hospitais públicos à espera de atendimento.
O
corporativismo no CRM capixaba não foi diferente. Reportagem publicada no
jornal o O Globo desse domingo (15) - "Sem pressa com a dor
alheia" - destacou o Espírito Santo e Amazonas como exemplos de Estados
que simplesmente se recusam a fornecer o registro provisório aos médicos
estrangeiros para que eles possam trabalhar e ajudar a aliviar a dor de tantos
brasileiros.
O site do
CRM-ES estampa com uma ponta incontida de orgulho a manobra corporativista da
instituição que negou o registro a três médicos: dois espanhóis e um capixaba
formado na Bolívia. O texto apresenta uma lista de argumentos para justificar
que o programa do governo federal é ilegal.
Falar que
o programa fere a Constituição, a soberania nacional e até a dignidade da
pessoas humana é fácil para os burocratas do jaleco branco que nunca precisaram
esperar à míngua numa fila por um médico.
Eles
desconhecem ou parecem insensíveis ao martírio da população mais pobres, que
não tem plano de saúde privado e é obrigada a encarar as filas quilométricas do
SUS ou passar meses numa lista de espera aguardando para fazer um exame ou uma
cirurgia. Muitos morrem esperando.
Como esse
não é um problema dos burocratas de branco, eles estão fazendo de tudo, sempre
em nome do corporativismo, para evitar que o médicos estrangeiros venham piar
no terreiro deles.
Eles
ficam fulos da vida quando ouvem que esses médicos estão preocupados em salvar
vidas e não apenas enriquecer. Algumas frases, que não combinam com os atuais
princípios de boa parte da classe, têm tirado os médicos do sério. Um grupo de
médicos cubanos recém-chegado ao Brasil declarou: "Somos médicos por
vocação, não por dinheiro".
O CRM
capixaba e outros do país que continuam empenhados em travar o programa que só
queria espalhar mais médicos pelo Brasil deveria, primeiramente, ouvir a
população, que é a usuária do serviço. É a população que tem de dizer se quer
ou não o reforço dos estrangeiros.
As
opiniões colhidas nas ruas ou postados nos comentários dos sites noticiosos que
têm tratado o assunto parecem não deixar nenhuma dúvida: os brasileiros querem
mais médicos, independente da nacionalidade, cor ou raça.
Se a
enquete colher a opinião das pessoas que estão nas filas dos postos de saúde ou
nos corredores dos hospitais públicos vira covardia, sobretudo se o
levantamento abordar os moradores das regiões mais pobres do país. Arrabaldes
em que o médico é um ser etéreo que muitos ainda não tiveram o prazer de
conhecer.
A
situação dessas regiões empobrecidas do país não é muito diferente à de alguns
países da África ou da América Latina. Nessas zonas de exclusão extrema, ações
como as feitas pelos Médicos Sem Fronteiras, muitas vezes, fazem a diferença
entre a vida e a morte.
Longe da burocracia conservadora e elitista dos
CRMs, a ação da organização humanitária reconhecida internacionalmente, mostra
que o exercício da verdadeira medicina segue Hipócrates.
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