Vitória na redução da tarifa de ônibus é estopim para novas reivindicações
Especialistas ouvidos pelo iG ressaltam que a conquista em pelo menos dez capitais – entre elas Rio e São Paulo - não vai parar por aí e que a mobilização não é só por 20 centavos
A redução da tarifa do transporte público em São Paulo, no Rio de Janeiro e em pelo menos mais dez capitais após a onda de protestos que tomou conta do País representou não só uma conquista do Movimento Passe Livre (MPL), organização que deu início aos protestos, mas também de todos os mais de 200 mil que saíram às ruas esta semana. Para especialistas ouvidos pelo iG, ainda não é possível prever o futuro das mobilizações, mas o valor da passagem de ônibus se tornou o estopim para novas reivindicações - direito à cidade, saúde, educação, gastos da Copa etc. - que refletem, em parte, demandas de uma classe que ascendeu socialmente.
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“É o começo de uma trajetória necessária a partir de agora. Em primeiro lugar, no próprio transporte, significa rever a hegemonia do cartel das empresas de ônibus nas cidades brasileiras, abrir a planilha de custos, dar transparência, reduzir margem de lucro e melhorar a qualidade do transporte”, avalia a urbanista Raquel Rolnik, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (USP) e relatora especial da Organização das Nações Unidas (ONU) para o direito à moradia adequada.
Ela diz que a questão não se reduz a R$ 0,20 e que existem outros temas que já estão sendo pautados, quando os protestos questionam os gastos com a Copa do Mundo em 2014, por exemplo. “Essa conquista fortalece o movimento. E que o movimento entenda que, a partir daí, precisa sentar e trabalhar uma pauta. Tenho certeza que esse movimento não é uma coisa esporádica e que acabou. Vamos ter de começar a conviver com uma nova forma de fazer politica”, afirmou.
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Manifestantes são refletidos no vidro de prédio, à esq., enquanto se manifestam no Rio . Foto: AP
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Francisco Fonseca, cientista político e historiador da FGV/SP, avalia que a conquista da redução da tarifa dá um recado bem simples: “É possível!”. “Mostra que quando há mobilização é possível mudar a relação com o Executivo e com o Legislativo, é possível melhorar serviços públicos desde que haja mobilização social, articulação política e as ruas mostraram claramente isso”, afirmou.
Ele também lembrou que a má qualidade dos serviços públicos e privados está entre os principais motivos da insatisfação dos brasileiros. “Há avanços ( no País), mas o déficit é tão grande e foi aprofundado na medida em que se tem uma nova classe média usando e exigindo serviços públicos, privados e terceirizados que não conseguem suprir ( a demanda). As pessoas terem mais renda não é suficiente para se calarem. E o Passe Livre foi capaz de sintetizar uma catarse, uma pauta significativa dos protestos se refere a essas demandas”, concluiu.
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ômico começa a chegar a um esgotamento. “Não é só ‘Meu micro-ondas, minha vida’”, disse sobre a política de crédito, usando o slogan do programa de moradia do governo federal.
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Martins acredita que haverá um refluxo do movimento, mas aposta que as demandas vão aumentar. Ele também ressaltou a importância dos partidos políticos, rejeitados por parte dos manifestantes, para dar vazão a essas demandas. “Os partidos fazem parte da democracia no mundo inteiro. (Nos movimentos sociais) têm pessoas simpatizantes de partido e todas as bandeiras são bem-vindas. Se é contra a PEC 37 (que retira o poder de investigar do Ministério Público), por exemplo, ela está no Congresso Nacional, então não tem outro caminho”, avaliou.
OBS: É PRECISO CONTINUAR A CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA.
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