Cobertura escassa da grande mídia sobre protestos desagrada turcos
Enquanto premiê da Turquia condena Twitter por suposta disseminação de informações falsas, população culpa submissos veículos de comunicação de massa, atrelados ao governo
O governo da Turquia culpa o Twitter. Muitos turcos responsabilizam os submissos grupos de mídia locais.
Quando os manifestantes saíram às ruas de Istambul e outras grandes cidades e foram atacados por forças de segurança com canhões de água, balas de borracha e gás lacrimogêneo, os principais canais de TV mantiveram a programação padrão: um programa de culinária, um documentário sobre a natureza e até um concurso de beleza. Para saber o que estava acontecendo – e, segundo o governo, para alimentar a violência – os turcos tiveram de apelar para o Twitter e outras mídias sociais.
Manifestantes acendem velas na Praça Taksim em Istambul, Turquia (13/6)
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Na quarta-feira, veio a reação. A agência de notícias semioficial Anatólia anunciou que a polícia deteve 25 suspeitos de usar o Twitter para incitar o crime. As prisões demonstram a antipatia do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan pelas mídias sociais, as quais ele classificou no domingo como “a pior ameaça à sociedade”.
Erdogan apontou o Twitter por seu suposto papel na escalada dos protestos que começaram há duas semanas na Praça Taksim, em Istambul, e rapidamente se espalharam para outras cidades, dizendo que “os melhores exemplos de mentiras podem ser encontrados lá”. O Twitter não quis comentar as declarações de Erdogan.
Críticos do governo reconhecem que informações equivocadas se espalharam no Twitter e outras mídias sociais, como a de que a confronto com a polícia havia deixado um grande número de mortos, além de fotos digitalmente alteradas de supostas vítimas. Mas eles dizem que os rumores se espalharam sobretudo porque a mídia tradicional se omitiu.
“Claro que existe um lado negro do Twitter. Mas se a grande mídia tivesse feito um trabalho melhor, teríamos menos desse problema”, afirmou Asli Tunc, um professor de comunicação na universidade Bilgi, em Istambul.
Com o crescimento dos protestos, alguns manifestantes direcionaram sua raiva às organizações de imprensa. Centenas sse reuníram às portas da HaberTurk TV; no dia seguinte, o protesto foi na frente de outro canal, NTV – até alguns funcionários participaram.
O chefe-executivo do grupo Dogus Media, controladora da NTV, Cem Aydin, se desculpou com o público do canal pela falta de cobertura nos primeiros dias de protestos. “Nossa audiência se sentiu traída. Nossa responsabilidade é transmitir tudo da forma que acontece”, afirmou em um discurso para os funcionários, também disponível em vídeo no site da emissora. “Devemos desculpas a você, nosso telespectador”, completou.
Para um país com eleições democráticas, a Turquia tem uma ampla tradição de suprimir a liberdade de expressão. O índice de liberdade de imprensa publicado pelo grupo Repórteres Sem Fronteiras coloca a Turquia em 154.º lugar, num ranking com 170 nações.
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De 2007 a 2010, o YouTube foi repetidamente bloqueado depois que vídeos insultando o primeiro presidente do país, Mustafa Kemal Ataturk, foram postados no site. Dezenas de jornalistas foram presos nos últimos anos, muitos acusados de colaborar com o terrorismo por terem entrevistado separatistas turcos.
Ainda assim, a resposta do governo turco foi bem diferente da de outros regimes autoritários do Oriente Médio durante a Primavera Árabe, quando vários governos chegaram a suspender a internet ou serviços telefônicos num esforço para deter o espalhamento da revolta.
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