segunda-feira, 23 de agosto de 2010

O inventor da vacina anti-ofídica, Vital Brasil

Vital Brazil

Nascimento e Formação
Vital Brazil nasceu na cidade de Campanha, Minas Gerais, em 28 de abril de 1865. Diplomou-se médico, em 1891, pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro e logo retornou a São Paulo, que acreditava ser um Estado preocupado com a organização da higiene e saúde de sua população.

Desde 1893, como inspetor sanitário, percorreu o Interior do Estado, tomando conhecimento das precárias condições de saúde em que vivia a população. Afastou-se do serviço público, estabelecendo-se como clínico em Botucatu, quando, em contato com acidentes, iniciou as primeiras experiências com serpentes peçonhentas. Em 1896, a convite de Adolfo lutz, iniciou suas pesquisas no Instituto Bacteriológico.

Em 1898 participou da Identificação do surto epidêmico de peste bubônica em Santos, e passou a preparar o soro contra esta doença na fazenda Butantan (local onde se originou o instituto). Médico clínico no interior de São Paulo, percebeu a necessidade de combater os sintomas de envenenamento por animais peçonhentos. Nesta época, ocorriam quase 3.000 acidentes por ano só no Estado de São Paulo.

A Fazenda dispunha de um laboratório improvisado, uma cocheira adaptada para enfermaria, um alpendre para sangria de cavalos imunizados e um pavilhão o para acondicionamento e distribuição de soros. Nesse ambiente prosseguiram os seus estudos e primeiros trabalhos técnicos até 23 de fevereiro de 1901, quando o Presidente Rodrigues Alves deu organização oficial ao Instituto Butantan, que recebeu inicialmente o nome de Instituto Serumtherápico. Neste mesmo ano foram entregues as primeiras partidas de soros antipestosos e antipeçonhentos

Todo este pioneiro e importante trabalho científico foi reconhecido 'pela primeira vez na comunidade científica durante o 5º Congresso de Medicina e Cirurgia, no Rio de Janeiro. Vital Brazil demonstrou neste congresso que a única arma contra o envenenamento ofídico era o anti - veneno específico (o soro obtido a partir do veneno do animal que causa o acidente só neutraliza a ação desse veneno). Muitos trabalhos científicos passaram a ser desenvolvidos por Vital Brazil e técnicos do Instituto Butantan. Estes estudos com animais peçonhentos levaram à publicação do livro "Defesa contra o Ofidismo", em 191 1, reeditado mais tarde em francês.

O Instituto Butantan ganhava prestígio e importância nestes anos, e sua ampliação era emergente. Inaugurou-se então, em 1914, o chamado Prédio Central do Instituto, o primeiro a ser construído para instalar propriamente vários laboratórios (hoje, o Prédio abriga a Biblioteca e a Divisão Cultural do Instituto e os laboratórios de Bioquímica e Farmacologia). Esta ampliação também atingiu a população, que precisava conhecer medidas de prevenção de acidentes peçonhentos, foi através de permuta com fornecedores de animais, com posterior troca de correspondência, que estas medidas começaram a ser divulgadas.

Nos anos seguintes, o Butantan passou a estender as suas pesquisas sobre os problemas ligados à higiene e preparo de produtos para a defesa da saúde da população paulista e brasileira. Estudou- se a difteria, tétano, gangrena, tifo, varíola (hoje erradicada), parasitoses, febre maculosa e lepra. Lemos Monteiro, destacado pesquisador desta fase do Instituto, e seu assistente, Edson Dias, foram infectados no laboratório quando preparavam a vacina contra a febre maculosa (tifo exantemático), vindo a falecer poucos dias depois. Vital Brazil retirou-se da direção do instituto em 1919, retornando em 1924. Neste ano intensificou os trabalhos, no campo da Microbiologia, Imunologia, criou novos laboratórios e estabeleceu um intenso programa de informação ao público, organizado cursos de higiene para professores e exposição de painéis informativos, Desenvolveu novos estudos, e produziu, em alta escala, vacinas para a produção da febre tifóide, que atingiu São Paulo nesta época.

Com uma previsão de produção de 70 milhões de vacinas e 620 mil doses de soro hiperimune para o ano 2000, o Butantan hoje desenvolve projetos para novos laboratórios de produção de soros e vacinas, modernização dos biotérios, pesquisas biomédicas em novas áreas e ampliação das atividades de ensino e divulgação. Crescendo sempre em função das necessidades da população, o Butantan fornece atualmente cerca de 80% de todas as vacinas utilizadas no Brasil. Desde 1901 o Butantan produziu mais de 540 milhões de doses de vacinas e 35 tipos diferentes de soros.

O Hospital Vital Brazil, para atender vítimas de envenenamento por animais peconhentos, começou a funcionar em 1945. Em 1948, como parte de uma homenagem a Vital Brazil, um novo prédio para laboratórios de pesquisa foi inaugurado no Instituto, dando inicio a mais uma fase de ampliação. Foram também construídos o heliporto, biotérios (onde são criados e mantidos animais para experimentos cientificos) e outros laboratórios.

Depois de um mês assistindo a conferências sobre medicina nos Estados Unidos, em 1916, Vital Brazil estava de malas prontas para voltar a São Paulo. O médico brasileiro mostrou os trabalhos desenvolvidos pelo Instituto Butantan, mas o soro contra veneno de cobra despertou mais curiosidade que interesse científico. Os americanos argumentaram que lá havia poucas espécies de serpente e os trabalhadores rurais não corriam riscos, pois andavam calçados. Mas o acaso encarregou-se de projetar Vital para o mundo. Ele aguardava a partida do navio quando dois médicos entraram correndo no hotel em Nova York: "Um funcionário do zoológico no Bronx foi picado por uma cobra e encontra-se à beira da morte." Vital pegou algumas ampolas que trouxera do Brasil e aplicou no paciente. Doze horas depois, ele já estava fora de perigo. O fato repercutiu em todo o país e virou manchete no The New York Times. "Veio daí a idéia dos estrangeiros de que existem serpentes por todos os cantos no Brasil", afirmou a ISTOÉ Lael Vital Brazil, 68 anos, filho do médico.

Tão obcecado pela morte, Oswaldo Gonçalves Cruz alardeava aos amigos: “Minha intuição me diz que vou morrer cedo.” Escreveu o testamento antes de chegar aos 40 anos. Mas, naquele dia, o diretor de Saúde Pública, cargo que na época equivalia ao de ministro da Saúde, tinha motivos de sobra para acreditar que chegara sua hora, de fato. Um motim popular queria, a todo custo, a cabeça do médico sanitarista. Meses antes, ele havia levado a cabo violenta campanha contra a febre amarela. O objetivo era derrubar o título de “túmulo dos estrangeiros” que o Rio carregava - surtos endêmicos matavam milhares por ano e os navios estrangeiros já nem aportavam por aqui. As temidas “brigadas mata-mosquitos” de Oswaldo Cruz, então, invadiram casas e cortiços à cata do vilão Aedes aegypti, transmissor da moléstia. Ainda por cima, o Congresso acabara de aprovar a Lei de Vacina Obrigatória para o combate à varíola, anunciando que outras medidas autoritárias viriam. Incontrolável - em parte por falta de informação, mas também devido à violência dos agentes sanitários -, a população saiu às ruas e protagonizou a Revolta da Vacina. E durante seis dias e cinco noites, tempo que o governo levou para controlar o motim, Oswaldo temeu a morte, mas não deixou de comparecer ao trabalho um só dia. O reconhecimento tardou, mas veio. Quatro anos depois da revolta, estavam erradicadas no Rio a febre amarela, a peste bubônica e a varíola.

Nenhum comentário:

Postar um comentário