segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

COMENTÁRIO ENVIADO Á COLUNA DO PROF. JOÃO SICSÚ DE CARTA CAPITAL

Colunistas

João Sicsú

Professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Foi diretor de Políticas e Estudos Macroeconômicos do IPEA entre 2007 e 2011.
 

Balanço

14.02.2013 09:39

A distribuição da renda dez anos depois


Após dez anos de governos do PT, pode-se detectar uma importante melhora no perfil da distribuição da renda no País. Não vivemos em nenhum paraíso. Muito longe disso. Mas, em contrapartida, a situação é muito melhor que a do final dos anos 1990 e início dos anos 2000.
Fonte: SCN/IBGE
Fonte: SCN/IBGE

O índice de Gini foi reduzido. Este índice mede a distribuição da renda e varia entre 0 e 1. Quanto mais próximo de 1, maior a desigualdade e quanto mais próximo de zero, maior a igualdade. O Gini brasileiro caiu de 0,585, em 1995, para 0,501, em 2011. Contudo, este é um número que ainda está distante dos índices de países tais como França (0,308) ou Suécia (0,244).
No início dos anos 1960, o Brasil possuía um Gini inferior a 0,5. Entretanto, os governos militares (1964-1985) adotaram um modelo de crescimento econômico com concentração de renda. O Gini subiu. Em meados dos anos 1990, com a queda da inflação, o índice de Gini sofreu uma redução.
O índice de Gini é calculado com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) do IBGE. Mais de 96% das rendas declaradas na Pnad correspondem às remunerações do trabalho e às transferências públicas. Sendo assim, a desigualdade medida pelo Gini/Pnad não é adequada para revelar a distribuição da renda entre trabalhadores, de um lado, e empresários, banqueiros, latifundiários, proprietários de imóveis alugados e proprietários de títulos públicos e privados, de outro. O índice de Gini não revela a participação das rendas do trabalho e do capital como proporção do Produto Interno Bruto (o PIB, que é o valor de todos os serviços e bens que são produzidos).
Além do Gini, é preciso analisar a distribuição funcional da renda: capital versus trabalho. O processo de desconcentração da renda que está em curso no Brasil vai além da redução do índice de Gini. Ocorre, principalmente, devido ao aumento da participação dos salários como proporção do PIB.
Fonte: IBGE
Fonte: IBGE

Houve uma trajetória de queda da razão salários/PIB de 1995 até 2003, quando caiu a um piso de 46,23% (incluindo as contribuições sociais dos trabalhadores e excluindo a remuneração de autônomos). A partir de então, houve uma inflexão na trajetória, que se tornou ascendente. O último dado divulgado pelo IBGE é de 2009. Neste ano, a participação dos salários alcançou 51,4% do PIB superando a melhor marca do período 1995-2003, que foi 49,16%.
São variadas as causas do movimento positivo de aumento da participação dos salários no PIB. O rendimento médio do trabalhador teve um aumento real significativo entre 2003 e 2012. Houve um vigoroso aumento real do salário mínimo nos últimos dez anos. E houve redução dos juros pagos pelo governo aos proprietários de títulos públicos e redução dos juros cobrados das famílias pelos bancos.
O índice de Gini/Pnad e a participação percentual das remunerações dos trabalhadores no PIB são medidas complementares. Ambas representam dimensões da desigualdade e do desenvolvimento socioeconômico do país. As duas medidas mostram que o desenvolvimento socioeconômico brasileiro está em trajetória benigna desde 2003-4. Elas mostram também que no período anterior (1995-2003) as rendas do trabalho perdiam espaço no PIB para as rendas do capital.
A recuperação do poder de compra dos salários foi o principal pilar da constituição de um imenso mercado de consumo de massas que foi constituído no Brasil nos últimos anos. Foi a formação desse mercado que possibilitou ao Brasil sair apenas com pequenos arranhões da crise de 2008-9. O desenvolvimento econômico e social brasileiro depende, portanto, do aprofundamento do processo distributivo em curso. Não existirá desenvolvimento sem desconcentração de renda

OBS: PEÇO LICENÇA AO COMPANHEIRO E PROFESSOR JOÃO SICSÚ PARA LEVANTAR UMA QUESTÃO; A POLÍTICA DE VALORIZAÇÃO DO SALÁRIO MÍNIMO AJUDOU A NOSSA POPULAÇÃO A DESFRUTAR DA DISTRIBUIÇÃO DA RIQUEZA. OS GRÁFICOS SÃO ESCLARECEDORES. A MEU CONCEITO, O GOVERNO LULA FALHOU AO NÃO INCLUIR APOSENTADOS DO INSS NO MESMO PLANO DO SALÁRIO MÍNIMO. AGORA, A CADA ANO QUE PASSA, UMA PENCA DE APOSENTADOS QUE GANHAVAM UM POUCO ACIMA DO MÍNIMO, ESTÃO ESCORREGANDO PARA A FAIXA DO MÍNIMO. LULA PRECISA FALAR COM DILMA PAR CORRIGIR ISSO. SENÃO, EM 2014, 9 MILHÕES DE APOSENTADOS VOTARÃO CONTRA DILMA. ESSE É O CONTINGENTE QUE AINDA GANHAM UM POUCO ACIMA DO MÍNIMO. SOMOS TORTURADOS JÁ HÁ 10 ANOS (8 ANOS DE LULA E 2 DE DILMA). ISSO É INJUSTO PARA UMA COLETIVIDADE DE HOMENS E MULHERES QUE AJUDARAM A CONSTRUIR A RIQUEZA DA NAÇÃO. ESTAMOS LONGE DOS DIREITOS ASSEGURADOS NA EUROPA E NOS ESTADOS UNIDOS. AINDA TEMOS 50 % DA RIQUEZA NACIONAL, NAS MÃOS DE 1O % DA POPULAÇÃO. OS MUITO RICOS NADAM DE BRAÇADA, SEM NENHUMA PREOCUPAÇÃO.

ABAIXO COMENTÁRIO DE OUTRO COMPANHEIRO POSTADO NA REVISTA.

Sérgio Beno Malschitzky disse:
O índice de Gini baixou, a participação dos salários no PIB aumentou, mas a concentração da Renda Nacional ainda é muito grande. Temos 10% da população abocanhando 50% da Renda, enquanto 50% com apenas 10%. Isto mostra claramente como ainda é muito acentuada a concentração. Enquanto perdurar esta discrepância não será possível manter uma taxa de crescimento compatível com as necessidades do Brasil. O salário mínimo ainda é muito baixo, na Argentina por exemplo é 1,66 vezes maior e nos EUA é aproximadamente 4 vezes maior. O aumento real do salário mínimo é muito salutar para a Economia, pois metade da população passará a adquirir não apenas alimentos, mas bens duráveis, e na medida em que for aumentando, até atingir níveis dignos, poderá permitir à esta metade da população investir em cultura, lazer, ou mesmo poupança para futuro investimento em habitação, automóvel, etc. O baixo valor real (poder aquisitivo) do salário mínimo brasileiro é o principal vilão da Economia, pois faz com que metade da população trabalhe apenas para sobreviver! O salário mínimo deveria ser pelo menos o dobro do que é hoje. O Governo deve acelerar o ganho real do salário mínimo em pelo menos 10% ao ano, para que em aproximadamente 10 anos ele chegue ao dobro do que é hoje e ainda assim será a metade do salário mínimo dos EUA.
 

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