quarta-feira, 18 de setembro de 2013

NUMA RELAÇÃO COM DADOS LEVANTADOS DE FORMA COMPLEXA, SITE IG APRESENTA O MINISTRO MERCADANTE. QUADRO HISTÓRICO DO PT, MUITO CONHECIDO E COMPETENTE

Aloizio Mercadante
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Aloizio Mercadante
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Por iG São Paulo
"Ele tem o ego do tamanho suficiente para ser político”. A frase, emitida certa vez por um amigo, tem sido repetida nos bastidores do poder com uma significativa variedade de formas, estilos e sutilezas para retratar o atual ministro da Educação, Aloizio Mercadante (PT-SP). Com maior ou menor grau de ironia, irritação ou bom humor, a vaidade aparece como traço analisado por grandes amigos ou adversários.

A característica é tão fiel quanto o bigodão espesso - mas sempre aparado e reluzente - que o acompanha desde 1977. A fama de um dos mais poderosos integrantes do PT e do governo o persegue, esteja ele ocupando qualquer vaga disponível no ministério do momento - já passou pela Ciência & Tecnologia assim que a presidente Dilma Rousseff chegou ao Palácio do Planalto - ou num assento no Congresso, onde já esteve como deputado federal e senador por São Paulo.

Mercadante é uma espécie de uma quase-versão petista do tucano José Serra (PSDB-SP). É centralizador, exibe um jeitão arrogante e a vaidade atinge níveis desconcertantes em alguns momentos. Mas tem uma inteligência privilegiada, lida com números como poucos, é perfeccionista ao extremo - característica, talvez, herdada da formação militar do pai - e uma veemência para muitos irritante na defesa das próprias ideias. Last but not least, é ambicioso, para o bem ou para o mal, conforme o observador.

Assim é o corolário psíquico do ministro. Qualidades e defeitos que, somados, atraíram para ele uma legião de inimigos políticos e amizades e alianças longevas, capazes de passarem incólumes inclusive por crises políticas, pensamentos econômicos distintos e ideologias diversas. À distância, estar perto de Mercadante pode significar, com a mesma facilidade, uma amizade e solidariedade, admiração e respeito, distanciamento e crítica de pessoas que não se bicam.

Dele também se fala sempre de algumas obsessões. Ser governador de São Paulo é uma delas. Ministro é outra. Presidente da República, complementarão alguns. Durante os oito anos de mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva costumava-se afirmar que Mercadante não pensava em outra coisa senão ser ministro - da Fazenda, fique bem entendido. Afinal, formado em Economia pela USP, com doutorado na Unicamp, onde é professor licenciado, aluno da legendária Maria da Conceição Tavares, formulador dos programas econômicos do PT e uma das cabeças fortes do partido nessa área, é ali que Mercadante se sente mais confortável e onde exibe sua melhor forma de vaidoso. O desejo de estar na Fazenda, portanto, ele manteve no governo Dilma, ainda mais porque a presidente o ouve com frequência nessa área, como uma sombra permanente a pairar sobre o ministro Guido Mantega.

Mercadante nasceu em maio de 1954 na cidade de Santos (SP). Mas a vida acadêmica e política se deu mesmo na capital. Na adolescência chegou a pensar em fazer Medicina. Desistiu e prestou Economia. Aluno da USP, iniciou a militância política na fundação do Diretório Central de Estudantes da universidade, nos anos 70. Foi presidente da Associação de Professores da PUC e vice-presidente da Associação Nacional de Docentes do Ensino Superior.

Tem no currículo ainda uma longa trajetória ao lado de Lula, com quem esteve no fim dos anos 70 nas primeiras greves do então emergente líder sindical. Acompanhou Lula também na sua primeira campanha - em 1982 ao governo de São Paulo. Ajudou a coordenar a campanha em 1986 para deputado federal, andou o Brasil inteiro ao seu lado em 1989 na primeira disputa para a Presidência da República. Na campanha de 1994, foi o candidato a vice de Lula e, quatro anos depois, um dos coordenadores da campanha. Em 2002, quando enfim o petista saiu vitorioso na disputa presidencial, Mercadante era também uma das estrelas da campanha - era candidato ao Senado.

Mercadante viveu, portanto, todas as campanhas de Lula, que o lançou para ser o porta-voz econômico do PT. Quando desembarcou no Palácio do Planalto em 2002, porém, um já maduro Lula achava que, para o Ministério da Fazenda, precisava de alguém com perfil mais político. Tinha em mente uma frase já dita em público pelo amigo Ricardo Kotscho: "Político, por concepção, quer agradar a todos. Mercadante não".

Já demonstrou saber cumprir missões partidárias. No Senado, por exemplo, segurou nas costas uma bancada totalmente inexpressiva do PT

Apesar disso, o atual ministro já demonstrou saber cumprir missões partidárias. No Senado, por exemplo, segurou nas costas uma bancada totalmente inexpressiva do PT contra uma maioria articulada e bastante experiente do PSDB e PFL. Centralizador, como já se sabe, ele tentava - em vão - estar em todos os lugares e controlar todas as votações. O malabarismo mal afamado provocou alguns desastres políticos e vários ruídos com a oposição. Mas conseguiu conduzir negociações relevantes com o PSDB, PFL e PMDB em vários momentos. Ainda assim, não é o que se pode chamar de benquisto pelos colegas. Havia, inclusive, um bordão entre os senadores quando um deles se esquecia de cumprimentar o outro: "Bom dia, Mercadante!", dizem eles, adicionando molho e pimenta no cardápio de sarcasmos sobre o jeito difícil e de poucos amigos do então líder do governo.

Considerado fiel a Lula, há vários petistas que o consideram desleal na política. O exemplo mais rumoroso dessas críticas é o chamado caso Mensalão. Mercadante, para muitos, rifou os correligionários. Não defendeu ninguém publicamente, embora, nos bastidores, tenha ajudado para que não fossem cassados. Mas a política não é feita somente de bastidores. Na gramática do poder, um afago em público tem a simbologia marcante da lealdade e da disposição em se queimar em solidariedade a aliados. Mas Mercadante não defendeu ninguém.

Além do mensalão houve outros momentos difíceis para Mercadante. Em 2006 - numa campanha tisnada pelo escândalo surgido no ano anterior - ele perdeu ainda no primeiro turno para o tucano José Serra. Ali viveu seu pior momento político quando integrantes de sua campanha - depois chamados por Lula de "aloprados" - foram flagrados ao tentar comprar um dossiê contra figurões do PSDB. A repercussão do caso afundou sua campanha e contaminou a disputa ao Planalto, afastando Mercadante do presidente.

A zona de sombra combinada com a demonstração de fidelidade ao partido e ao seu líder maior foi além. Líder do PT no Senado no penúltimo ano do mandato de Lula, Mercadante afirmou que deixaria a função em caráter irrevogável por discordar da blindagem que o governo e o partido davam ao presidente da Casa, José Sarney, após ser revelado o esquema irregular dos atos secretos. A força do irrevogável não durou 24 horas. Ficou na liderança, dizendo obedecer a uma ordem de Lula. Gesto que levou o então deputado federal Fernando Gabeira (PV-RJ) a galhofar: "Pobre Mercadante: até para sair da liderança tem que pedir autorização ao Lula".

Pazes feitas, em 2010 Mercadante aceitou concorrer de novo ao governo do Estado de São Paulo, sendo de novo derrotado, dessa vez por Geraldo Alckmin, também no primeiro turno. O prêmio de consolação viria na forma de ministério. Primeiro como ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação, e depois, a partir de 18 de janeiro de 2012, como ministro da Educação, devido à saída de Fernando Haddad, que disputou e ganhou a prefeitura de São Paulo.

Área que costuma render bons discursos, mas pouco voto, a Educação é, porém, um dos terrenos mais férteis para um político mostrar que exibe reais condições de alterar os rumos do País. Mercadante tem, portanto, sua chance. Sobretudo depois que, em agosto, recebeu a melhor notícia que um ministro da Educação pode esperar: a Câmara dos Deputados aprovou o projeto que destina os recursos dos royalties do petróleo - que, na prática, é o que as empresas produtoras pagam à União pelo direito de exploração - para a educação e saúde.

Pelas contas do governo, a maior parte desse dinheiro poderá ser usada em investimentos: construção de novas escolas, compra de equipamentos, ou na melhor remuneração de professores. O que está decidido é a prioridade da destinação: o uso do dinheiro irá prioritariamente para a educação básica.

O ministro da Educação mencionou a mobilização popular, na forma de protestos e manifestações, que desde junho tomaram conta das principais capitais do país, como um ponto determinante na aprovação do projeto dos royalties. Mesmo assim, Mercadante não ficou satisfeito de todo. Tanto que negocia o encaminhamento de um novo projeto de lei, que permitiria a mudança da regra mais para frente e, assim, mais recursos a um longo prazo. "O fundo só vai começar a se constituir verdadeiramente de forma robusta daqui a cinco anos", chegou a lamentar.

Aí cabe a pergunta: onde estará Aloizio Mercadante daqui a cinco anos? Sua trajetória política tem sido das mais agitadas, e, agora mesmo, apesar das negativas dele próprio, fala-se numa possível candidatura sua ao governo de São Paulo em 2014, ou até na coordenação política da campanha de reeleição de Dilma. O fato é que Mercadante tem bastante influência no governo, a ponto de, nos bastidores, sugerir uma reforma ministerial, cujo maior alvo seria o atual ministro da Fazenda, Guido Mantega. Este declarou que não acredita que esteja na mira de Mercadante, a quem considera um amigo de mais de 30 anos. E Dilma fez saber que não gostou nem um pouco da intriga, embora isso não tenha feito com que o ministro da Educação perdesse prestígio junto a ela.

Mexer no Ministério não é uma ideia nova de Mercadante - pode-se até dizer que tem sido uma obsessão sua. Embora faça questão de dizer que ocupa um "Ministério dos sonhos", ainda mais agora com a liberação dos royalties para a educação, ele ainda tem esperanças de ser deslocado para a Casa Civil, atualmente ocupada por Gleisi Helena Hoffmann. Dizem alguns companheiros petistas do ministro que, na Casa Civil, a visibilidade é nacional, e que a pasta vestiria como uma luva para os futuros planos de Mercadante.

Desde os tempos de candidato ao governo paulista, tem expressado algumas opiniões próprias de ministro da Educação. Na campanha de 2010, prometeu acabar com a aprovação automática na rede estadual, caso fosse eleito. "O que acontece é que você finge que não reprovou, mas a vida reprova", afirmou ele. À época em que foi nomeado ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, lançou o programa Ciência sem Fronteiras, para conceder 100 mil bolsas de estudos nas principais universidades do exterior para estudantes brasileiros.

A rotina estafante de um estudante de ensino médio no Brasil - que pode incluir, em apenas uma semana, 20 disciplinas diferentes - também o preocupa: "Precisamos de um currículo que não seja uma enciclopédia", disse uma vez. A solução apontada pelo ministro é reorientar a grade curricular usando a lógica das quatro grandes áreas de Enem: linguagens e códigos, matemática, ciências da natureza e ciências humanas, articulando de melhor forma as disciplinas. Para nortear a mudança, a expectativa é aproveitar o esforço de preparação para o exame nacional, inclusive com o material didático que já vem sendo utilizado.

Isso, naturalmente, se Aloizio Mercadante permanecer Ministro da Educação.


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