domingo, 22 de setembro de 2013

TEXTO TRANSCRITO DO BLOG DO ZÉ DIRCEU

Uma estrela chamada Gushiken


(artigo publicado no portal Sul 21, em 19.09.2013)

Luiz Gushiken morreu da mesma forma como viveu: servindo-nos de exemplo. Nos últimos meses de vida, Gushiken foi um exemplo de coragem no enfrentamento do câncer, ensinando a todos a seu redor — amigos, parentes, companheiros de luta — que não existe dificuldade que o fizesse deixar de sorrir. E, durante toda sua trajetória política e pessoal, foi exemplo de retidão, honestidade e caráter. São características que Gushiken transmitiu às pessoas que tiveram a sorte de conviver com ele e também ao Partido dos Trabalhadores e à Central Única dos Trabalhadores, que tiveram a sorte de tê-lo como um de seus fundadores.
Se o PT é até hoje um partido diferente das outras agremiações da política tradicional, é porque teve expoentes como Luiz Gushiken para lhe impor rumos e exigências éticas até então inimagináveis no jogo político brasileiro. Gushiken não era um político tradicional e, por isso, o partido que fundou não teria como ser tradicional. Gushiken era um humanista, sempre em busca da paz, da justiça social e da liberdade. Foram esses valores que orientaram sua conduta na resistência à ditadura militar, no Sindicato dos Bancários de São Paulo, no Congresso Nacional, na presidência do PT, nas campanhas eleitorais e no governo federal.
Nascido em 1950 em Osvaldo Cruz, no interior paulista, em uma família originária de Okinawa, no Japão, Luiz Gushiken iniciou a militância política na tendência trotskista Libelu (Liberdade e Luta). Na diretoria do Sindicato dos Bancários, liderou em 1982 uma greve nacional da categoria que paralisou, em plena ditadura, 700 mil bancários durante três dias.
Essa mesma coragem, e essa mesma vontade de ajudar a construir o bem comum, ele levou para a Assembleia Nacional Constituinte, quando foi eleito deputado por São Paulo, em 1986. Foi deputado federal outras duas vezes e eleito presidente nacional do PT em três oportunidades. Exerceu todas essas funções com brilhantismo e abnegação. Participou de todas as campanhas de Lula à Presidência da República e, quando Lula foi vitorioso pela primeira vez, em 2002, confiou a Gushiken a função de ministro-secretário de Comunicação.
“Luiz Gushiken foi um militante político brilhante, um conselheiro, um companheiro e um grande amigo. Um homem íntegro que dedicou sua vida à construção de um Brasil mais justo e solidário”, disse com exatidão o ex-presidente Lula ao lamentar a morte do grande amigo, ocorrida no último dia 13.
Como tantos outros que lutaram por um Brasil melhor, Gushiken contrariou interesses poderosos e foi vítima da grande injustiça de ter seu nome entre os denunciados na Ação Penal 470. Não houve respeito à presunção da inocência —tanto no caso dele, como, mais uma vez, no de tantos outros. “Na voragem das denúncias abalou-se um dos pilares do Estado de Direito, o da presunção de inocência, uma vez que a mera acusação foi transformada no equivalente à prova de culpa”, escreveu Gushiken em sua carta de demissão do governo, em 2006.
Com a coragem habitual, combateu de frente e de cara limpa a campanha contra o PT. Deu apoio a mim e aos outros companheiros condenados prévia e equivocamente pela mídia. Gushiken me incentivou a lutar e a jamais me dobrar. Ele considerava que o período da AP 470 representava a “fase heroica” do PT, em que a resistência à ofensiva da direita definiria o futuro do partido.
Gushiken morreu tendo reconhecida sua inocência, mas não viu amenizado o sofrimento imposto a ele no curso da campanha de linchamento público a que o PT foi submetido —por extensão, a família de Gushiken também foi alvo e vítima da pré-condenação midiática. O impressionante é que, mesmo nesses momentos difíceis, Gushiken enfrentou as injustiças com a dignidade de sempre. Como o exemplo que foi e continuará a ser.
Meu amigo Luiz Gushiken, serei sempre honrado pelo privilégio de conviver com você.

 
 Zé Dirceu


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