‘Eduardo Campos deixou o diapasão de Dilma e Aécio’, diz Marina
Ex-ministra e possível candidata em 2014 alerta sobre caminho autoritário do PT, diz que não foi para o PSB por vingança e comemora o novo olhar de seu parceiro
09 de outubro de 2013 | 2h 02
Eduardo Bresciani, Daiene Cardoso e Bernardo
Caram - O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA - A ex-ministra Marina Silva condenou, em entrevista ao
Estado, a articulação do governo petista para impedir o
surgimento da Rede. "Eu não fiz isso (filiar-se ao PSB), em hipótese alguma, por
mágoa ou raiva. Fiz em legítima defesa. Em legítima defesa da democracia, de
poder discutir ideias, do direito de discutir e debater propostas, o que nos
estava sendo negado." Emocionada, disse que o PT, partido onde exerceu a maior
parte de sua trajetória, precisa ficar atento a desvios que podem levá-lo ao
autoritarismo. Ela nega desejo de se vingar do PT, mas diz que a sentença sobre
sua decisão será dada pela história.
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André Dusek/Estadão
Marina diz ter agido em 'legítima defesa da
democracia'
Sobre as alianças estaduais diante do novo quadro eleitoral, a ex-senadora
anunciou que haverá readequações e já avisou que, por incompatibilidade de
ideias, não imagina ver o deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO) no palanque.
Por que a sra. foi para o PSB?
Acho que é uma grande
ambição, de que a política pode ser melhor, de que o Brasil possa ser melhor. É
uma ambição saudável e não vou abrir mão. Foi por ela que eu saí do PT. O que
passei até a decisão de conversar com o Eduardo Campos e selarmos a aliança
programática não chega nem perto do sofrimento que eu passei na decisão de sair
do PT. É porque eu acredito que o sonho não pode parar. A história não para.
Alguém tem que continuar. É engraçado que foi muito bom poder ficar recordando
esses dias todos. Quando o Lula fez o movimento no ABC e quis transformar aquele
movimento em um partido político foi muito incompreendido, pelo PMDB, que dizia
que iria dividir as oposições, pelos partidos marxistas-leninistas que tentavam
rotulá-lo de ser um partido para fazer o jogo da direita. E de uma forma
diferente, sem a força do Lula, de repente eu me vi numa situação de alguma
forma parecida.
O governo Dilma foi "chavista", como a sra. teria dito, ao patrocinar
o projeto que restringia a criação de novos partidos?Quando me
referi à ideia do chavismo foi no espaço do comportamento político, de que não
possa prosperar outra força política.
A senhora fará um acerto de contas com o PT?O PT é um
dos partidos mais poderosos já existente na América Latina e eu não teria força
para um acerto de contas. Eu não fiz isso, em hipótese alguma, por mágoa ou
raiva. Fiz em legítima defesa. Em legítima defesa da democracia, de poder
discutir ideias, do direito de discutir e debater propostas, o que nos estava
sendo negado. Agora a gente tem chance de colocar para discutir o PT, o PSDB, a
Rede e o PSB. Apresentem suas ideias, suas propostas para o Brasil.
Que ideias seriam essas?É preciso um governo que faça
uma "desruptura", que não esteja preocupado com a reeleição. Sou contra a
reeleição. As pessoas estão começando a desejar que a sociedade não decida. No
Brasil não existe mais uma cultura de discutir ideias, programas. Só se discute
quem vai ser o marqueteiro, aí vira um duelo de titãs de marqueteiros. Aí eles
dizem: 'você é gigante, você é anão', e está decretado. Você está no Olimpo,
está na planície, um é Davi, outro Golias. Agradeço a Deus porque os
marqueteiros só conseguem me ver como Davi.
O PT virou autoritário?Vejo tons de incoerência. Não
seria leviana em dizer que o PT já é um partido autoritário. Mas, do mesmo jeito
que no começo a mudança é apenas um pequeno desvio, nós temos que ficar atentos
para ver quais desvios que a gente quer que prospere e os que a gente não quer
que prospere. O PT tem que ficar muito atento porque pode prosperar um desvio
que não é bom para a democracia, nem para o PT nem para ninguém. E é incoerente
com a biografia da maioria das pessoas que estão no PT.
O que mais decepcionou no PT?Vou começar pelo que me
emociona, que foi o PT ter cumprido de fato o que sinalizou na questão da
justiça social, tirar 30 milhões de pessoas da extrema pobreza. Mas,
infelizmente, o PT não foi capaz de entender que não poderíamos nos conformar
com a repetição do sucesso, que é estar no poder.
A sra. já disse em entrevista ao Estado que Campos, Aécio e Dilma
estavam no mesmo diapasão. O que mudou agora?Eu sinto que o Eduardo
está com essa disposição de sair do diapasão. Naquele momento eu me sentia
sozinha e insistindo: é uma agenda, não é eleição por eleição, não é só ficar
amealhando tempo de televisão, é adensar propostas, visão de país. Essas
eleições não vão ser marcadas por quem tem tempo de televisão e estrutura. Essas
eleições serão marcadas pelo que aconteceu em junho, por uma nova postura e o
que mudou é que o Eduardo está sinalizando que ele está buscando uma nova
postura. Ele estava construindo ali a candidatura dele. Agora tem algo que
aconteceu, que nasceu. Passada a euforia do parto, nenê dá trabalho.
E como vão criar essa criança?Quando você faz uma
aliança programática, a gente está pensando que tem uma candidatura posta e um
plano de governo. Não se trata de interferir no PSB. O programa do PSB
referencia um programa de governo, o programa da Rede propõe a ajudar também e
fazendo uma mediação para termos um terceiro, que será o do possível candidato
em 2014. Nós não estamos discutindo chapa, candidatura, eleição.
Incomoda ficar na mesma órbita de Heráclito Fortes, Jorge Bornhausen
e Ronaldo Caiado?Não tenho nenhum constrangimento. Em primeiro
lugar porque não estou como militante e filiada do PSB. Estou num diálogo para
aprofundar um programa com o PSB. E obviamente que o que fazer com as suas
incoerências internas cabe ao próprio PSB. Não serei eu. A história e trajetória
de vida diz que Ronaldo Caiado, se a aliança prospera, ele mesmo vai pedir para
sair, porque é completamente contrário às minhas ideias.
A sra. vem dizendo 'se a aliança prospera'... Não é
definitiva?Eu e Eduardo não fizemos nem a primeira reunião depois
daquele dia. O que sinto é uma disposição. Todas as declarações dele atestam
isso e sei que ele é muito inteligente para saber a responsabilidade que pesa
nos seus ombros e a contribuição histórica que pode dar.
A sra. acredita que pode transferir votos para
Campos?Não acredito em transferência porque o voto não é meu, é do
eleitor. O eleitor não quer ficar nessa posição de mero espectador. Quer ser
protagonista, autor, mobilizador. E isso ficou claro nas manifestações agora de
junho. O voto não é meu. Ou a gente convence esse cidadão, de que essa proposta
é boa para o Brasil, ou ele não vai dar o voto só porque a Marina está dizendo
vote no Eduardo. Só Deus e o tempo dirão se meu gesto foi para ajudar a mudar ou
se foi para me vingar. Agora, para convencer os outros, a gente tem que ter o
que dizer. Mas a gente está só no começo. Não tenho como objetivo de vida ser
presidente. Eu tenho como objetivo de vida um País melhor.
OBS: UMA VEZ, EM VISITA AO BRASIL, WALESA, CRIADOR DO PARTIDO "SOLIDARIEDADE" NA POLONIA, QUE VIVIA NA ÉPOCA UMA DITADURA FEROZ, AFIRMOU QUE ELE ESTAVA NO CAMINHO CORRETO E LULA ESTAVA ERRADO EM SEUS CONCEITOS. O QUE ACONTECEU DEPOIS? OS POLONESES, O ALIJARAM DO PODER PELO VOTO. LULA POR SEU TURNO FEZ BOM GOVERNO E FOI REELEITO NOVAMENTE. A HISTÓRIA DA POLÍTICA TEM MUITOS FATOS IMPORTANTES.
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