quinta-feira, 3 de outubro de 2013

UM QUADRO DE CARREIRA BRILHA Á FRENTE DO BANCO CENTRAL. TOMBINI PREFERE AGIR FORA DOS HOLOFÓTES. DENTRO DE UMA CRISE INTERNACIONAL LONGA, ELE AGE EM SINTONIA FINA COM MANTEGA, COM LUCIANO COUTINHO E COM DILMA. FAZ EXCELENTE TRABALHO.

Alexandre Tombini

 
 

Tombini assumiu um desafio arriscado: substituir Henrique Meirelles na presidência do Banco Central. Diferentemente da inflação, teimosa e fugidia, ele está sempre no centro da meta.

 
Henrique Meirelles não é Alan Greenspan. Mas há um quê de Ben Bernanke em Alexandre Tombini. Se Bernanke substituiu a lenda que ditou a maior economia do planeta por 18 anos, Tombini encarou o desafio de suceder o mais longevo comandante do Banco Central – nunca antes na história deste País o chefe da autoridade monetária havia permanecido no cargo durante todo o mandato do presidente da República; o que dizer, então, por dois mandatos... Funcionário de carreira do BC, Tombini não se intimidou com a sombra de Meirelles, até porque nunca caiu na armadilha de se confrontar com ela. Tem sido um rigoroso e disciplinado condutor da política econômica do governo, dando prosseguimento ao modelo de austeridade que marcou a gestão do antecessor. Diferentemente da inflação, teimosa e fugidia, Tombini está sempre no centro da meta.

Se é na tormenta que se conhece o braço do timoneiro, Alexandre Tombini tem o mérito de não fazer marola na condução da política econômica. Já bastam as ondas que balançam o barco. E elas vêm de todos os lados: pela proa, a borrasca da inflação; a estibordo, a procela do câmbio; a bombordo, o déficit das transações correntes. E la nave va – assim com os juros, que singram vagarosamente para a casa dos dois dígitos. Tombini gira o leme cuidadosamente, sem movimentos bruscos. Coisa de quem está a bordo há bastante tempo e conhece cada vela, cada pedaço desse convés.

Economista, formado pela Universidade de Brasília, Alexandre Tombini ingressou no Banco Central em 1998. Passou por diversos cargos da instituição. Na diretoria, ocupou duas cadeiras: a de Assuntos Internacionais e a de Normas e Organização do Sistema Financeiro. Afastou-se do BC entre 2001 e 2005, período no qual atuou como assessor sênior da diretoria executiva no escritório de representação do Brasil no Fundo Monetário Internacional (FMI). Em novembro de 2010, foi indicado pela presidenta eleita Dilma Rousseff para assumir o comando do BC.

Como reza a liturgia do cargo, aproveitou a sabatina no Senado para dar o tom de sua futura gestão. No discurso feito aos senadores, em 7 de dezembro de 2010, usou por sete vezes as expressões "rigor", "rigorosa" ou "rigorosamente". Por quatro vezes, referiu-se ao "controle da inflação". Chavões? Pode até ser. Mas muito do talento de um cantar está em escolher a música que a plateia quer ouvir. Por plateia, entenda-se o governo e, sobretudo, o mercado. Aos olhos dos agentes financeiros, a indicação de Tombini era um recado claro de que prevaleceria a máxima do príncipe de Falconeri, personagem da obra Il Gattopardo: "Às vezes, é preciso mudar para que tudo fique como está".

Íntimo do Banco Central
Bem visto pelo mercado e admirado por seus pares. Por mais paradoxal que a frase possa soar, Alexandre Tombini é visto por seus colegas como o Banco Central no comando do Banco Central, algo relevante após oito anos de reinado de um "forasteiro". Vá lá que a autoridade monetária não seja a Petrobras, uma nação dentro da nação, mas dentro da instituição há uma república de "becenianos" ortodoxos. Além da familiaridade com a política econômica – trabalhou, por exemplo, diretamente com o então presidente do BC, Armínio Fraga, na elaboração e implantação do sistema de metas de inflação –, Tombini é íntimo da casa que dirige. Conhece praticamente todos os executivos e as mais diversas áreas do banco. Dentro do BC, é visto pelos demais funcionários como um personagem acessível, afeito ao diálogo, embora sempre bastante formal.

Um episódio revela a relação entre comandante e comandados. Em agosto de 2010, Tombini foi eleito o "Economista do Setor Público" na tradicional premiação realizada anualmente pela Ordem dos Economistas do Brasil. Diversos funcionários do banco, não necessariamente dos mais altos escalões, compareceram à cerimônia de entrega dos prêmios e aplaudiram efusivamente a aparição de Tombini. Algum desavisado poderia pensar que se tratava de um artista; uma voz mais maledicente diria que ali estava uma claque de programa de auditório, reunida para bajular o economista. Nem um caso nem outro. Ao que tudo indica, a manifestação foi sincera e partiu dos próprios funcionários do BC. Ressalte-se que, naquele momento, a nomeação do então diretor de Normas para a presidência do BC só existia em tímidas e raras especulações na mídia sobre a formação da eventual equipe de governo de Dilma Rousseff.

Se Henrique Meirelles tinha enorme familiaridade com microfones, Alexandre Tombini é o avesso do avesso do avesso. Tímido, é daquelas pessoas que falam para dentro, como se não fizesse muita questão de ser ouvido. Diferentemente do antecessor – que, até pelo papel de grande fiador do governo Lula junto aos agentes financeiros, precisava se manter em permanente exposição –, Tombini é extremamente comedido. É pouco afeito a contatos com a mídia – Meirelles queria saber permanentemente quem falava com quem no governo e na imprensa e não despachava antes de ler todo o clipping sobre o Banco Central. O presidente do BC fala apenas o indispensável; raramente sobe o tom. No fim de setembro, em audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, atacou o pessimismo dos mercados financeiros em relação à economia brasileira. Bem, atacar é forma de dizer. Tombini destilou suas críticas com a mesma emoção e ênfase de um professor narrando a resolução de uma equação de terceiro grau.

Inspirando confiança
"Não há meia autonomia. Ou é total ou não existe." Autor da frase, Alexandre Tombini, logo na partida, afastou qualquer eventual questionamento ao seu poder decisório – mais uma vez, a sombra de Henrique Meirelles estava lá, a alimentar intrigas e desairosas ilações. Desde que assumiu, soube capitalizar a imagem de técnico competente para conquistar a confiança do mercado. No governo, mantém bom relacionamento com Guido Mantega e com o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, além, é claro e acima de tudo, do prestígio junto a Dilma Rousseff.

Hoje poucos duvidam que Alexandre Tombini possa bisar o feito de Henrique Meirelles. O economista é candidatíssimo a permanecer exatamente onde está no caso de reeleição de Dilma Rousseff. Neste caso, dentro de uma perspectiva histórica, talvez esteja diante de um desafio até maior do que aquele que recebeu em 2010, ao substituir Henrique Meirelles. Naquele momento, o mar se mostrava menos revolto. Hoje, Tombini trabalha com indicadores, digamos, menos generosos. Dilma Rousseff deve encerrar seu (primeiro) mandato sem trazer a inflação para o centro da meta. A projeção do BC para este ano é um índice de 5,8%, bem acima da meta de 4,5%. Para 2014, a estimativa é de uma inflação similar, 5,7%. Tombini encara também a tarefa de segurar o câmbio na casa dos R$ 2,30 – haja leilões do BC. Já o déficit em transações correntes deve bater nos US$ 75 bilhões.

E no meio desse tiroteio de números adversos, Tombini e todo o governo seguem sendo alvejados pelos críticos do modelo econômico e do “baixo” crescimento do PIB – de 2013, já foi revisado de 2,7% para 2,5%.

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