quarta-feira, 27 de novembro de 2013

NOSSO GOVERNO PRECISA AGIR NESSE SETOR DA ECONOMIA. PARA COMPENSAR QUEDA EM SEUS MOVIMENTOS, OS BANCOS AUMENTAM SUAS TARIFAS E QUEM PAGA É O CONSUMIDOR FINAL (SEU CLIENTE) QUE NADA PODE FAZER SENÃO, SE SUJEITAR Á IMPOSIÇÃO DOS BANCOS QUE SÃO PODEROSOS.

Bancos sobem tarifas para compensar perdas no crédito.

Com margem financeira apertada pelo spread em queda, setor bancário fortalece a receita ofertando produtos de nicho e apostando em crédito de menor risco

Taís Laporta- iG São Paulo | - Atualizada às
 
O brasileiro pagou menos por crédito no último ano. Em compensação, gastou mais com tarifas e serviços bancários. É o que confirma o balanço dos bancos no terceiro trimestre de 2013, com queda na receita das operações de crédito e um salto expressivo nos ganhos com manutenção da conta corrente, cartão de crédito e produtos de nicho.
Thinkstock/Getty Images
Receita com serviços e tarifas cresce nos bancos privados, enquanto crédito cai
A mudança não é ocasional. Ela faz parte de uma estratégia bem bolada para compensar as perdas com a recente queda nos juros do crédito, liderada pelos bancos públicos desde o início de 2012 – forçando as instituições privadas a fazer o mesmo.

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Embora a margem financeira dos bancos esteja apertada pelo declínio do spread – diferença entre os juros recebidos para emprestar e pagos para captar –, sua lucratividade bate sucessivos recordes. A explicação é que os bancos estão mordendo de outra forma o bolso do consumidor para engordar a receita.
O Itaú é um bom exemplo disso: o spread caiu 12,6% no 3º trimestre do ano, mas a receita de prestação de serviços e renda de tarifas disparou 15,8% ante o mesmo período de 2012. Os ganhos com seguros, previdência e capitalização também subiram. A alta foi de 24,9%. Com o Bradesco não foi diferente: a receita com serviços cresceu 12,1% no trimestre.
“Os bancos privados passaram a oferecer uma gama mais variada de produtos e serviços de nicho para os correntistas e fizeram reajustes para contornar a redução do spread e manter um nível razoável de retorno”, comenta o analista-chefe da Ativa Corretora, Marcelo Torto.

Novo mix da carteira
A receita com crédito caiu não só porque os juros baixaram, mas porque os bancos decidiram mudar o mix da carteira para reduzir os elevados níveis de inadimplência, apostando em ativos de menor risco (e rentabilidade menor), observa Torto. O Itaú anunciou recentemente que reduziria a oferta do financiamento de veículos – campeão em maus pagadores – para equilibrar o retorno com o crédito imobiliário e consignado.
Com o Santander, a história foi parecida.O volume da carteira de crédito cresceu, mas a receita com essas operações caiu 8,6% – o equivalente a R$ 1,6 bilhão – nos últimos 12 meses. Em seu último balanço, o banco justificou que a queda reflete a mudança em seu portifólio de crédito, que aumentou a participação em produtos com spread menor.
Já a receita com tarifas e serviços subiu 9,3% nos últimos 12 meses – ou R$ 669 milhões –, impulsionada “por cartões de crédito, comissões com seguros e serviços de conta corrente”, relatou o Santander. Só a comissão com cartões disparou 20,3% no período, enquanto seguros cresceram 15,3%.
Para o analista da XP Investimentos, Tiago Souza, os bancos encontraram nos serviços embutidos, além de cartões e seguros, uma forma de ganhar rentabilidade num cenário de concorrência acirrada. “Há também a tentativa de agregar valor aos produtos, mais focada em clientes com bom relacionamento bancário e de alta renda, como no segmento prime, onde há possibilidade de cobrar mais”, analisa.

Pequenos reajustes, mais queixas
Não por coincidência, o Santander reajustou as tarifas de alguns de seus serviços bancários de novembro de 2012 para cá. O pacote “Universitários”, por exemplo, passou de R$ 4,95 mensais para R$ 5,95 neste semestre. O “Mais Minutos”, que saía por R$ 22 há um ano, passou a custar R$ 24.
O Bradesco também passou a cobrar mais tarifas. Dos 15 pacotes pesquisados pelo iG, 12 sofreram aumento de preços nos últimos 12 meses, tanto entre os clientes de varejo, quanto no segmento prime. O produto “Cesta Básica de Serviços” passou de R$ 13,40 para R$ 14 no período, enquanto o “Cesta Fácil” subiu de R$ 17,50 para R$ 19,00.
No Itaú, os reajustes foram mais pontuais nos pacotes, mas houve aumento na anuidade da maioria de seus cartões de crédito. O mais básico passou de R$ 48 para R$ 52. As receitas com cartões do banco totalizaram R$ 2,2 bilhões no terceiro trimestre, alta de 42,1% no acumulado do ano até setembro, em relação ao período anterior.
Enquanto as tarifas subiram, o número de reclamações procedentes contra os bancos no Banco Central disparou 14,2% em outubro sobre setembro, com o Santander à frente do ranking. Débitos não autorizados em conta, serviços irregulares na conta salário e cobrança irregular de tarifas por serviços não contratados lideraram as queixas.

Ganho operacional
Melhorar o desempenho operacional foi outra aposta dos bancos para compensar as perdas no crédito, lembra Souza, da XP Investimentos. Foi o caso do Itaú. “Além de apostarem em segmentos com menor inadimplência, os bancos passaram a cortar as despesas administrativas e ficaram apoiados em ganho de eficiência e redução no quadro de funcionários”, observa.
Na opinião do analista, a nova carteira de crédito e o foco em outras receitas é uma visão de médio e longo prazo. “Os bancos estão se adequando ao novo cenário da economia brasileira”, diz. Já para Torto, a mudança é sazonal. “O momento é de ajuste. A aposta em ativos de menor risco é momentânea para enxugar o balanço do setor. Lá na frente, os bancos terão mais segurança para emprestar para segmentos mais arriscados”.

Bancos públicos
O Banco do Brasil e a Caixa seguiram na contramão dos bancos privados no último trimestre. Sofreram aumento da inadimplência no curto e médio prazo, após terem ampliado o volume da carteira de crédito. A Caixa teve que aumentar a provisão para despesas com calote para R$ 22,7 bilhões, um aumento de 21,4% no trimestre.
A tendência agora é que os bancos reduzam a participação nestas operações, e diminuam o ritmo de expansão da oferta de crédito, devolvendo a fatia para os bancos privados, analisa Torto.

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