segunda-feira, 15 de julho de 2013

MAIS UM EXEMPLO EM QUE NOSSOS DEPUTADOS ESTADUAIS VENDEM "DINHEIRO PÚBLICO", NUMA MANOBRA FEITA JUNTO AOS FUNCIONÁRIOS DA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA. PROCEDIMENTOS COMO ESSE, FORAM QUESTIONADOS PELA MASSA EM JUNHO. CONTINUAM BRINCANDO COM DINHEIRO "SUADO" RECOLHIDO DA POPULAÇÃO EM FORMA DE TRIBUTOS. PELO TEXTO, ESSA "MANOBRA" FOI APROVADA EM APENAS 48 HORAS PELA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA.

Licença vira ‘poupança’ na Assembleia de SP


Deputados paulistas autorizam servidores a vender três meses que teriam de ser usados para descanso; custo anual deve chegar a R$ 1,5 milhão

15 de julho de 2013 | 2h 06

Fernando Gallo - O Estado de S.Paulo
A Assembleia Legislativa de São Paulo aprovou uma resolução para permitir aos servidores a venda integral da licença-prêmio, uma manobra que pode custar aos cofres do Legislativo paulista um custo adicional de R$ 1,5 milhão por ano. Especialistas em direito administrativo afirmam que a Casa tornou possível o desvirtuamento completo do benefício, uma vez que ele foi criado para ser fruído como descanso, e não recebido como dinheiro.
 

Instituída pelo Estatuto do Funcionalismo Público do Estado de São Paulo em 1968, a licença-prêmio é um benefício de 90 dias de licença a cada cinco anos trabalhados pelo servidor. Alterações na legislação estadual, contudo, foram permitindo que parte da licença fosse percebida em dinheiro. Na Assembleia, desde 2009 e até a mudança, feita em junho, os servidores podiam vender até 60 dos 90 dias. A partir do ano que vem poderão vender o período completo de 90 dias.
No funcionalismo federal, a licença-prêmio foi extinta em 1997 durante uma reforma administrativa promovida pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso. No Executivo paulista, a licença-prêmio só pode ser vendida por algumas carreiras, como policiais e professores - casos em que a substituição é mais difícil. No Poder Judiciário estadual, como na Assembleia, a prática da venda da licença-prêmio é disseminada.
Em situações semelhantes, pelo País afora, a licença-prêmio somente pode ser paga em dinheiro em casos como aposentadoria ou exoneração. Em muitos casos, no entanto, o benefício foi inteiramente desvirtuado. Não raro, servidores optam por acumular as licenças-prêmio para recebê-las anos depois em dinheiro, quando já ganham salários muito maiores do que os que recebiam quando obtiveram o direito ao benefício. Ou seja, na prática recebem valores muito maiores do que aqueles a que tinham direito originalmente.

Ritmo relâmpago. A mudança que permitiu a venda integral da licença-prêmio no Legislativo foi proposta no último dia 11 de junho pela Mesa Diretora, composta pelo presidente, Samuel Moreira (PSDB), pelo 1º secretário, Ênio Tatto (PT), e pelo 2º secretário, Edmir Chedid (DEM). Tramitou em ritmo relâmpago e foi aprovada por unanimidade pelo plenário dois dias depois, em 13 de junho, tornando-se a resolução 889/2013.
Em 2012, a Assembleia gastou R$ 7,2 milhões referentes a licença-prêmio com o pagamento a 620 servidores ativos. No ano anterior, o valor tinha sido de R$ 5,9 milhões, para 598 funcionários. O Orçamento total do Legislativo paulista para 2013 é de R$ 844 milhões. A Casa diz que a mudança feita agora pode beneficiar até 300 servidores por ano. Em 2014, mais 527 funcionários estarão aptos a requerer o pagamento.
Crítico da iniciativa dos deputados paulistas, o professor de direito administrativo Floriano de Azevedo Marques, da Universidade de São Paulo (USP), afirma que "permitir a conversão de licença-prêmio em pecúnia é desvirtuar a finalidade do benefício, além de criar uma oneração ao erário que se constituiria em mais um desapreço à responsabilidade fiscal".
Além disso, tal medida "vai no sentido contrário do que nos últimos tempos vem sendo a regulamentação da matéria, no sentido de exigir que o servidor não acumule licenças prêmio e as goze ao longo do exercício. Licença-prêmio não pode virar uma espécie licenciosa de prêmio em dinheiro", conclui o professor.

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