Campinas planeja moradias em imóveis vazios do Centro
iG Paulista - 14/07/2013 15h37 |Maria Teresa Costa | teresa@rac.com.br
Foto: Érica Dezonne/AAN
Fachada de construção abandonada na Rua Dr. Mascarenhas, no Botafogo, abandonada há 20 anos
Fachada de construção abandonada na Rua Dr. Mascarenhas, no Botafogo, abandonada há 20 anos

Alguns da região central e Botafogo estão abandonados há mais de 20 anos. De olho nesses imóveis, a Prefeitura está pesquisando a legislação para ver como essas casas e apartamentos podem passar à propriedade do município e, assim, viabilizar moradias para a população mais pobre.
“Com tantos imóveis vagos, podemos ter uma solução que evite a necessidade de construir conjuntos habitacionais nos limites da cidade, encarecendo os custos de infraestrutura e jogando a população mais pobre cada vez mais longe”, afirmou o secretário de Planejamento, Ulysses Semeghini.
A primeira providência, informou, será um levantamento da dívida tributária existente sobre esses imóveis para garantir que as casas possam ser dadas em pagamento da dívida. O levantamento incluirá imóveis vazios e os subutilizados. A pesquisa é parte do plano de trabalho do grupo nomeado pelo prefeito Jonas Donizette (PSB) para revisar a legislação urbanística e elaborar novas normas para Campinas, de forma a criar condições para que ela se torne uma cidade mais compacta.
Abandonados, os imóveis se tornam abrigo para moradores de rua e usuários de drogas, além de terreno perfeito para o esconderijo de criminosos. Sem falar no lixo e no entulho acumulados em vários deles, e que ajudam a formar ilhas de degradação.
O Estatuto da Cidade fornece meios para que o município possa se apropriar de imóveis vagos e subutilizados, mas as regras impostas pela legislação tornam essa posse muito demorada. Um dos instrumentos é o IPTU progressivo. Os proprietários de imóveis vazios ou subutilizados que não atenderem às notificações da Prefeitura para parcelamento, edificação ou utilização compulsórios terão o valor do IPTU aumentado a cada ano, chegando ao valor máximo de 15% do valor venal do imóvel e, depois de cinco anos, perdem a propriedade.
Outro mecanismo é a desapropriação com pagamento em títulos da dívida pública. Nesse caso, se o dono pagar o IPTU progressivo durante cinco anos e não der um uso para seu terreno ou imóvel, a Prefeitura poderá desapropriá-lo, pagando com títulos da dívida pública, parcelado em 10 anos.
A Prefeitura quer uma alternativa negociada e por isso pretende optar por perdoar a dívida de IPTU em troca da posse do bem. “Vamos ver se isso será possível. A gente imagina que quem abandona um imóvel não paga o imposto, mas vamos ter que ver se isso de fato ocorre e se poderemos ter um volume significativo de casas e apartamentos que possam ser utilizados como imóveis de interesse social”, disse Semeghini.
O Código Civil também possibilita que a Prefeitura tome o imóvel abandonado. Segundo a legislação, é possível a encampação e arrecadação de imóvel urbano em caso de abandono e com o proprietário dando demonstrações claras de desinteresse em conservá-lo em seu patrimônio. Chamada de Instituto do Abandono, a legislação dá à Administração Pública o direito de assumir os imóveis abandonados. Por ele, o governo decretará a encampação do imóvel, ficando sob a guarda e posse do Município.
A partir daí, será encaminhada uma notificação ao proprietário, que caso não entre em entendimento, terá seu imóvel encampado pela Administração, que publicará o edital formalizando o ato. A Prefeitura também fixará um cartaz no imóvel relatando a situação em que ele se encontra.
Em poder do Município, a Administração poderá fazer a manutenção, e melhorias para utilização do imóvel. Decorridos três anos da data da publicação em jornal, caso ainda não se mostre interessado, o bem passa a ser propriedade do município. Caso haja interesse do proprietário em recuperar o imóvel antes dos três anos se passarem, se fará necessário o pagamento de tributos, multas e o ressarcimento de eventuais despesas realizadas pelo município no imóvel, sem remissão.
Saiba mais
Campinas tem pelo menos 85 esqueletos de concreto espalhados, que contribuem para a construção de um cenário de degradação em torno dessas ruínas urbanas. O levantamento inclui também prédios industriais e comerciais que estão há muitos anos abandonados, destruídos e esquecidos. Muitos estão em bairros residenciais, outros localizados às margens de rodovias que cortam o município. Muitos deles eram ocupados por empresas que, por diversos motivos, encerram suas atividades ou abandonaram o município para se instalar em outro local.
Ideia anima vizinhos e comerciantes
Possível utilização de prédios abandonados valorizaria áreas hoje degradadas
A possibilidade da Prefeitura assumir e dar uso a um imóvel abandonado há mais de 20 anos na Rua José Paulino anima a vizinhança. A casa nem tem mais telhado de tantos anos sem manutenção e acabou levando insegurança à região, além de colaborar com a degradação visual do local. Há sempre usuários de droga usando a casa, segundo o comerciante Josias Silveira. “Quem abandona a casa por tantos anos não tem mais o menor interesse nela. Será muito bom se a Prefeitura tomar esse imóvel”, afirmou.
Na área central há muitas casas fechadas e abandonadas. No Botafogo, na região próxima à antiga rodoviária, também. “Esse abandono ajuda a desvalorizar nossos imóveis. A região já está largada por conta do abandono do terreno da antiga rodoviária e essas casas fechadas ajudam a trazer mais insegurança. Acho que a Prefeitura tem mesmo que pegar essas casas e dar melhor uso”, afirmou a dona de casa Cleria Maria da Silva.
Para o comerciante Luiz Antônio Castro da Silva, um proprietário que há mais de dez anos mantém um imóvel fechado, sem manutenção e esperando cair não tem mais interesse nele. “Há tanta gente precisando de casa para morar enquanto outros abandonam o que tem. Se a Prefeitura assumir, vai ser um bem muito grande para nós”, afirmou o comerciante, que tem um estabelecimento na rua Dr. Ricardo, perto de um casarão abandonado.
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