quinta-feira, 22 de setembro de 2011

DIANTE DE UMA POSTURA FIRME DE DILMA, JORNALISTA ACOSTUMADA A CRITICAR, SÓ ACHOU E ROUPA DE DILMA PARA SUA CRÍTICA



Eliane Cantanhêde

21/09/2011

Dilma, forma e conteúdo

Dilma fez menos o que o Itamaraty gostaria e mais o que ela quis. Assim, a principal parte de seu discurso na Assembleia Geral da ONU, em Nova York, foi dedicada à economia e à crise internacional. Em discurso incisivo, ela apontou a responsabilidade dos países desenvolvidos, cobrou participação de todos --emergentes e em desenvolvimento-- na solução e desfilou os sucessos brasileiros, praticamente sugerindo-os como modelo.

A presidente, primeira mulher a abrir a Assembleia Geral na história da ONU (prerrogativa brasileira) fez uma comparação que foi no fígado dos EUA e da Europa: o desemprego. Os desempregados nos EUA já são 14 milhões e, na Europa, 44 milhões, enquanto o Brasil vive fase de praticamente "pleno emprego". Ela admitiu, porém, que a capacidade de resistência do Brasil "não é ilimitada". Leia-se: a crise está chegando.

Em política externa, Dilma fez um apelo veemente para a adaptação do Conselho de Segurança da ONU ao mundo contemporâneo, com a inclusão de novos membros, e disse que o Brasil está plenamente apto a assumir uma vaga permanente, uma velha aspiração.

A presidente também defendeu a criação do Estado palestino, contrapondo-se à posição de Barack Obama, que é contra, mas ela teve o cuidado de falar na importância da paz e nos direitos de Israel. Ainda defendeu as revoluções democráticas no mundo árabe, condenando a repressão arbitrária e feroz de alguns governos, implicitamente condenando a Líbia de Gaddafi.

É claro que boa parte do discurso foi destinado às mulheres, no que ela fez muito bem (olha o meu "corporativismo" aí...). Na forma, estava firme e enfrentou bem o natural nervosismo. Pena que sua assessoria tenha falhado na escolha da roupa, pois blusa azul estampadinho com parede verde confuso no fundo é uma péssima combinação para imagens e distrai o telespectador.

No conteúdo, foi afirmativa, deu seu recado e foi Dilma Rousseff, não mera leitora de discurso pronto.

O discurso não muda nada na ordem das coisas, nem deve ter lá grande repercussão na mídia internacional, que só pensa e tem olhos para Obama e para os líderes de países ricos, mas o importante é a plateia que estava ouvindo atentamente a presidente de um país emergente, pacífico e que está quase completando duas décadas de um círculo virtuoso. O recado dela foi dado.

Eliane Cantanhêde é colunista da Folha, desde 1997, e comenta governos, política interna e externa, defesa, área social e comportamento. Foi colunista do Jornal do Brasil e do Estado de S. Paulo, além de diretora de redação das sucursais de O Globo, Gazeta Mercantil e da própria Folha em Brasília.
E-mail: elianec@uol.com.br

OBS: JORNALISTA DA FOLHA, DESTA VEZ SÓ CONSEGUIU CRITICAR A ROUPA DE DILMA. E PARA LEMBRAR O DITADO: "NÃO É O HÁBITO QUE FAZ O MONGE". ELA PODERIA SE ATER AO PONTO CHAVE DO DISCURSO, ONDE DILMA CHAMA AS NAÇÕES DESENVOLVIDAS À RESPONSABILIDADE DIANTE DESSA CRISE OCONÔMICA GLOBAL. OS CÃES LADRAM, ENQUANTO A CARAVANA PASSA.

Nenhum comentário:

Postar um comentário