domingo, 10 de março de 2013

NOSSOS VIZINHOS ARGENTINOS ESTÃO NUMA ENCRUZILHADA.

Volver23/02/2013 | 11h58

Cristina não quer largar o cetro

"Yo adivino el parpadeo De las luces que a lo lejos Van marcando mi retorno..." Carlos Gardel e Alfredo Le Pera, 1935

Cristina não quer largar o cetro Juan Mabromata/AFP
Sem travas na língua, Cristina protagoniza inúmeros bate-bocas Foto: Juan Mabromata / AFP

Ao completar 60 anos na terça-feira passada, Cristina Elisabet Fernández de Kirchner continua irascível. O outono da maturidade não a serenou. Compra brigas, insulta quem bem entende e processa desafetos na justiça. Não importa quem seja.
Sem travas na língua, Cristina protagoniza inúmeros bate-bocas. O mais recente e rumoroso ocorreu em janeiro com ninguém menos do que o ator Ricardo Darín — orgulho argentino e ícone do cinema mundial. Em uma entrevista, Darín lamentara a polarização da sociedade em decorrência do kirchnerismo e pedira explicações sobre as denúncias de enriquecimento ilícito do casal. Baseava-se em reportagem do jornal La Nación, segundo a qual o patrimônio dos Kirchner aumentara de R$ 3 milhões para R$ 35 milhões entre 2003 e 2011.

É certo que Darín merecia resposta, mas Cristina preferiu atacar. Demonstrando ter acesso a informações privilegiadas, acusou o ator de ter contrabandeado uma caminhonete em 1991, usando recursos exclusivos para deficientes físicos. Depois, retrucou que peritos judiciais não encontraram provas de ilegalidade na multiplicação da fortuna.
O protagonista de Elefante Branco, O Segredo de Seus Olhos e Um Conto Chinês não alimentou a polêmica. ZH procurou a assessoria de Darín pedindo entrevista — não para voltar ao tema dos Kirchner, mas sobre a situação argentina. A resposta via e-mail, educada e imediata, foi de que não poderia atender: "Está de férias e logo viaja à Espanha para a estreia do filme Tese Sobre um Homicídio na Europa".

A presidente não se encrenca apenas com ídolos. Baixinha (por vezes usa salto de 10 centímetros para compensar os 1m57cm de altura) e destemida, sustenta a contenda contra o poderoso Grupo Clarín — maior conglomerado de mídia do país. A disputa que o marido e ex-presidente Néstor Kirchner (morto por um infarto, em 2010) deflagrou, ela amplificou.
Já foi comparada a mulheres fortes, como a mítica Evita Perón (1919-1952), a madrinha dos descamisados argentinos. A referência mais recente era Hillary Clinton. Dizem línguas afiadas nos cafés portenhos que Cristina e Hillary conduziram maridos inexpressivos à presidência — Néstor, na Argentina, e Bill Clinton, nos Estados Unidos. Sem Cristina, El Pinguino (o pinguim) de nariz avantajado não teria conquistado a Casa Rosada.
Biografias revelam que Cristina já era de faca na bota como deputada e senadora. Certa feita, no Senado, debatendo sozinha entre homens, um dos colegas a tratou de "meu bem". Ela cortou: "Não sou seu bem, sou a senadora Fernández".

Militante da ala esquerda da juventude peronista durante a ditadura militar (1976-1983) com o namorado Néstor, Cristina age impelida pelo gênio forte, mas principalmente pelo poder que obteve nas urnas. Reelegeu-se presidente em 2011 com 53,8% dos votos, livrando uma vantagem de 37% sobre o segundo colocado.
Sentindo-se poderosa — tem maioria no Congresso e uma legião de adoradores —, Cristina fustiga até o Fundo Monetário Internacional (FMI). Ao ser censurada pelas manipulações nos índices de inflação, no início deste mês, recorreu ao Twitter para contragolpear, misturando, de propósito, as siglas FMI com FBI: "No se asusten, el FBI son los Fondos Buitres Internacionales." Em espanhol, buitres significa abutres.

Cristina não mede palavras, despreza volteios diplomáticos, fala o que o povo quer ouvir. Agora, calcula todos os atos para buscar a re-releição— diz-se também nos cafés, até o hábito de só usar preto depois da morte do companheiro de 35 anos.
É notória a vaidade de Cristina, não atenuada nem pelo luto. Assessores de cerimonial devem estar atentos às exigências, se não quiserem sofrer uma descompostura. Antes da fase negra, ao prever que discursaria ou seria fotografada, queria saber detalhes como as cores das cortinas e das paredes das salas para escolher a roupa que melhor combinaria no cenário. Mas onde irá parar a Argentina com o estilo belicoso de sua comandante? Cristina já se indispôs com a classe média — um perigo para a estabilidade de qualquer governo — e agora ouve panelaços de insatisfação. Desentende-se com os vizinhos Uruguai e Chile, trata mal o Brasil nas relações comerciais, esquecendo-se de que necessita de apoio, especialmente se mantiver pretensões territoriais sobre as Malvinas.

OBS: CRISTINA KIRCHNER ESTÁ NUMA ENTALADA. MANIPULA OS ÍNDICES ECONÔMICOS E TENTA SE EQUILIBRAR NO PODER. UM DOS MAIORES PRESIDENTES DOS ESTADOS UNIDOS EM TODOS OS TEMPOS, LINCOLN DEIXOU UMA FRASE QUE A MAIORIA DOS POLÍTICOS PENSA SUPERAR: "OS MAUS POLÍTICOS PODEM ENGANAR TODO O POVO POR ALGUM TEMPO, MAS NÃO ENGANAM TODO O POVO, TODO O TEMPO". CRISTINA ESTÁ NESSA SITUAÇÃO. EM DETERMINADA OCASIÃO, CAIRÁ A SUA MÁSCARA. A ALTERNÂNCIA DO PODER É UM DOS PILARES DA DEMOCRACIA.

Nenhum comentário:

Postar um comentário