quarta-feira, 28 de agosto de 2013

OS MORADORES COM CARTEIRINHA DO SUS PASSAM HORAS À ESPERA DE UM ATENDIMENTO MÉDICO. CONFORME MATÉRIA DO TEXTO ABAIXO, NOSSOS MÉDICOS, QUE TEM CONTRATOS COM AS PREFEITURAS DOS MUNICÍPIOS NÃO CUMPREM SUAS CARGAS HORÁRIAS, MAS GANHAM OS VALORES ACERTADOS NOS CONTRATOS. QUEM FISCALIZA A CARGA DESSES PROFISSIONAIS? EM INDAIATUBA SP, ESSE PROCEDIMENTO É CORRIQUEIRO. SE HOUVESSE O CUMPRIMENTO DAS HORAS COMBINADAS, NOSSO PRONTO SOCORRO NÃO FICARIA CHEIO DE PACIENTES À ESPERA. MÉDICOS CONTRATADOS QUE GANHAM SEM TRABALHAR, É DINHEIRO PÚBLICO VAZANDO PELO RALO. A VINDA DOS PROFISSIONAIS ESTRANGEIROS SERÁ MUITO SAUDÁVEL AO BRASIL. ALÉM DE AUMENTAR A OFERTA DE HORAS TRABALHADAS, AJUDARÃO NOSSAS ADMINISTRAÇÕES PÚBLICAS A "CERCAR" AQUELES QUE ESCAPAM DO CUMPRIMENTO DE SUAS RESPONSABILIDADES. O EXEMPLO ABAIXO, DO HOSPITAL CARDOSO FONTES EM JACARAPAGUÁ, DEVE SER UMA PRÁTICA (NOCIVA) EM CENTENAS DE HOSPITAIS EM NOSSO IMENSO PAÍS. EXCELENTE PROCEDIMENTO TOMOU NOSSO GOVERNO FEDERAL, COM DILMA E PADILHA NA VANGUARDA DESSE AVANÇO SOCIAL, QUE SERIA DESNECESSÁRIO SE OS MÉDICOS CONTRATADOS CUMPRISSEM SUAS RESPONSABILIDADES SOCIAIS.

Procura-se: Médicos 'fogem' de expediente em hospital público

Eles deveriam estar no Cardoso Fontes, onde têm salários de até R$ 16 mil, mas quase não vão ao hospital público

João Antonio Barros e Francisco Edson Alves
Rio - A face oculta do Hospital Cardoso Fontes, em Jacarepaguá, ganha contornos e vida nas clínicas particulares. Praticamente desaparecidos da emergência e dos ambulatórios, onde deveriam trabalhar todas as semanas, um grupo de médicos e enfermeiros raramente é visto atendendo no hospital. Passa o dia no corre-corre para cumprir a extensa agenda de clientes exigentes nas Zonas Sul e Oeste.
No Rio, 88 médicos estrangeiros — nenhum cubano — entram nesta quarta-feira no terceiro dia de avaliação do Programa Mais Médicos, no Centro Cultural Banco do Brasil. As aulas são de saúde pública brasileira e Língua Portuguesa. Eles não escondem a ansiedade.
Mauricea termina expediente em empresa particular na mesma hora em que deveria entrar no hospital
Foto: Alessandro Costa / Agência O Dia
No estado, serão contratados 70 médicos, 10 deles estrangeiros, para trabalhar em 14 municípios: Belford Roxo, Duque de Caxias, Guapimirim, Itaboraí, Itaguaí, Japeri, Mesquita, Nova Iguaçu, Paracambi, Queimados, Rio, São Gonçalo, São João de Meriti e Seropédica.
Já no Cardoso Fontes, o urologista André Guilherme Lagreca da Costa Cavalcanti é exemplo do quanto é importante aparecer: no dia 28 de junho atendeu 36 pessoas que esperavam no ambulatório. Foi a única vez naquele mês que os pacientes viram o médico no hospital.
André Cavalcanti é referência no Rio na reprodução humana. Além do contrato de 20 horas semanais com o Ministério da Saúde, é professor da UniRio — 40 horas por semana — e passa a maior parte do tempo nos consultórios da Barra e de Copacabana.
Sem contar o extra, às sextas-feiras, no centro de fertilização da Rede D’Or, onde a consulta custa R$ 400. Na saúde pública, o médico ganha R$ 9 mil por mês.
Outra médica com a agenda lotada é Mauricea de Santanna. De segunda a sexta-feira, ela atende, das 13h às 19h, na empresa Sansim, que presta serviço à fábrica de lubrificantes da Petrobras Distribuidora, em Duque de Caxias. A hora da saída é exatamente a mesma que deveria entrar no plantão da enfermagem do Hospital Cardoso Fontes.
Mas os engarrafamentos na longa viagem de 50 quilômetros entre Campos Elísios e Jacarepaguá devem impedir Mauricea de chegar no hospital. Seus colegas mais novos não a conhecem.
Os antigos se assustam quando alguém tenta saber dela. Terças, quartas e sábados, novamente na função de médica, ela atende no consultório particular, em Madureira. No Cardoso Fontes, sua carga é de 40 horas por semana e o salário, R$ 8 mil.
Quem também atende na Zona Oeste, só que duas vezes por semana, é a ginecologista Magali Luppo Cordeiro. Médica com status de chefia no Cardoso Fontes, ela tem duas matrículas no Ministério da Saúde e total de 60 horas semanais — ou 12 horas por dia, já que não trabalha nos fins de semana.
Com a agenda no consultório particular, fica difícil atender nos dois lugares. No Cardoso Fontes, Magali recebe, por mês, R$ 16 mil.
 
Especialistas ilustres que nunca estão disponíveis
A escala de médicos do Hospital Cardoso Fontes tem nomes ilustres, mas pessoas desconhecidas dos pacientes. Um deles é o do geriatra Paulo Roberto Fernandes, diretor da unidade até outubro.
A agenda de atendimento dele é mistério: fica trancada na mesa da enfermeira Vera Lúcia e ninguém consegue marcar uma consulta com o profissional — reconhecido como um dos melhores geriatras e ginecologistas do Cardoso Fontes, onde deveria trabalhar 40 horas por semana para ganhar R$ 11 mil.
O argentino Jorge Soria e o egípcio Morhamed Ali Gad fazem curso de saúde pública brasileira e de Português
Foto: Uanderson Fernandes / Agência O Dia
A desculpa é a mesma na hora de marcar a consulta: “Não há vaga e nem previsão” de quando o médico estará disponível. Durante a semana, na sala onde atendem os ginecologistas, nem sinal de Fernandes. Se alguém quiser vê-lo, é só ir às terças, quartas e quintas-feira a seu consultório, na Barra.
Outro desaparecido do Cardoso Fontes é o ex-diretor do hospital, o oncologista José Francisco Ferrão. Seu salário, pago pelo Ministério da Saúde, está à altura do prestígio profissional: quase R$ 16 mil. Mas os pacientes da unidade — centro de referência para tratamento de câncer — não conseguem consulta.
O nome do médico não aparece nem entre os servidores do hospital. Mas é fácil achar o doutor Ferrão. Sete quilômetros é a distância até sua clínica particular, no bairro da Taquara, também em Jacarepaguá. Mas há uma condição para ser atendido: pagar R$ 150 pela consulta.

Estrangeiros têm aulas no Rio de Janeiro
Os 88 médicos vindos de diversos países, como Egito, Argentina, Grécia, Portugal, Itália e Espanha, que passam por treinamento no Rio, dizem dar pouca atenção às críticas de colegas brasileiros.
“Para mim, (as críticas) servem de incentivo”, disse o neurocirurgião egípcio Morhamed Ali Gad, 35 anos, que já passou seis meses aprimorando a profissão em Curitiba (PR).
Gaetano de Rosa, 57, clínico geral italiano, afirmou, porém, que os estrangeiros merecem mais respeito. “Sempre respeitei a medicina brasileira”, justificou.
A paulista Aline Moraes, graduada em medicina estética na Itália e que trabalhou por 12 anos em áreas carentes da Argentina disse que os médicos vieram para somar e não dividir.

Argentino já previa crítica
O cirurgião-geral argentino Jorge Soria, 47, disse que esperava críticas, mas alega que elas vêm dos que ainda não conhecem os médicos estrangeiros. “Não duvidem de nossa capacidade e vontade de melhorar os índices de saúde”.
Jorge Darze, presidente do Sindicato dos Médicos, voltou a criticar o Mais Médicos. “É um programa eleitoreiro e que desrespeita a lei. Os políticos, quando adoecem, vão para o Sírio-Libanês”, ironizou.
Para Lígia Bahia, médica especialista em Saúde Pública e professora da UFRJ, trazer médicos estrangeiros para o Brasil e incentivar que brasileiros vão para o interior é uma medida importante. “Precisamos, entretanto, de mais recursos técnicos, científicos e não apenas humanos”, ponderou.

    Nenhum comentário:

    Postar um comentário